Beeeem-vindos ao post que deveria ter saído no meio da semana e acabou saindo no meio da noite de sexta! Eu tenho que voltar à minha regra de só prometer coisas depois que elas estiverem prontas porque eu fui dizer "Vários posts esta semana como presente de Natal" e acabei deixando vocês com dois posts! O primeiro deles foi bem longo, mas ainda assim apenas dois posts. Para resumi tudo, eu perdi completamente a noção do que estou fazendo com a minha vida. Emocional e psicologicamente falando esta foi uma semana de merda e eu deveria ter refeito minha agenda ao invés de ficar tentando me forçar escrever, mas eu só fiz isso depois de ter passado mal madrugada passada porque isso é muito minha cara. Dezembro deveria ter sido meu mês para descansar, mas não foi e agora eu estou colhendo os frutos disso. E meu notebook parou de carregar outra vez! E eu não sei se a oficina vai estar aberta semana que vem! Tudo ótimo por aqui! Voltando à lista de 101 coisas em 1001 dias, eu vim atualizar vocês sobre o décimo quarto item, mas antes dele, precisamos de certo contexto - e peço licença para poetizar bastante a coisa toda.
O maior paradoxo que rege a minha existência é a necessidade de ter um ponto constante na vida para chamar de lar, ao mesmo tempo que, nas minhas próprias palavras, eu nunca quero ficar em um lugar por tempo o suficiente para que as pessoas se cansem de mim. Assistir ao filme Amor sem Escalas me fez perceber que eu não posso viver a vida que eu sonho viver, porque eu sou apegada demais à minha vida ao mesmo tempo que sou desapegada demais à mesma. Eu nunca conseguiria viver só de uma mala e nem desfazer minhas conexões com as pessoas, ao mesmo tempo que eu odeio me sentir presa a pessoas e a coisas. Eu sou acumuladora e sempre acho que vou precisar de alguma coisa por mais boba que seja, mas quando entro no clima de me livrar das coisas, faço de tudo para me desfazer do máximo de coisas possível porque só me sinto bem assim. É por isso que eu sonho com um pequeno apartamento confortável, apenas para ter onde me refugiar quando minha vontade de me esconder do mundo for maior do que a vontade de explorar cada canto dele. Isso tudo sendo dito, quando eu finalmente tiver esse apartamento, quando eu encontrar o lugar para chamar de lar e de ponto de decolagem para todos os destinos do mundo, eu quero que ele seja tomado por centenas de livros.

*Cantando dramaticamente*

Caso você não tenha acompanhado todo meu processo esquisito de mudança desde 2014 para cá, vamos a um resumo: Eu morei no Rio de Janeiro de 2010 a 2014 e em abril de 2014, logo depois de perder minha mãe, eu tive que voltar para a minha cidade natal na Bahia, onde minha família tem suas raízes. Como a mudança foi muito abrupta, muitas coisas minhas ficaram no meio do caminho, na casa do meu tio no interior do RJ. Foram várias coisas como fotos e porta-retratos, itens de cozinha, roupas de cama e etc, mas a única coisa que importava para mim de verdade e que eu sentia falta mais do que qualquer outra coisa eram meus livros. 101 livros meus ficaram para trás e foi praticamente como deixar meus filhos em casas de parentes. Infelizmente, eles também eram os mais complicados de serem enviados porque livros pesam e decididamente 101 livros pesam muito. Assim, eu passei anos sem eles e sentindo falta de poder pegá-los, fuçá-los, relê-los quando deveria estar terminando outro livro e de enfiar cinco marcadores neles para poder colocar citações em posts.
Em abril de 2016, eu me mudei da casa dos meus avós para um apartamento só meu e da minha irmã e depois disso estava decidida a trazer meus bebês do interior do Rio de Janeiro para a segurança dos meus braços. Eu me comparei a uma mãe que se muda para outro estado e que passa anos juntando dinheiro para trazer os filhos para onde ela vai, o que foi bastante dramático e exagerado, mas é a única comparação que eu consigo fazer. Antes de simplesmente pedir que meu tio enviasse nossas coisas, eu precisava ter um lugar onde enfiar 101 livros, então pedi a meu outro tio que fizesse uma estante para mim. Eu sempre quis ter uma estante de madeira simples para encher com todos os meus livros, que circulavam entre meus guarda-roupas e nichos que eu já tive. O fato de eu ter passado de 150 livros físicos, sem uma estante só era possível porque mais da metade deles estava bem longe de mim. Então pedi uma estante de presente e ganhei uma com seis prateleiras, branca e cinza, completamente amorzinho. Eu disse a todo mundo que era minha primeira estante na vida, mas isso não é exatamente verdade porque eu já tive uma estante de aço, como pode ser visto na imagem abaixo.

Uma foto publicada por Giulia Santana (@giuliasntana) em
Esses eram tempos mais fáceis


Minha estante ficou pronta e foi montada no dia 8 de julho. Meus livros que estavam comigo na época ocupavam mal mal duas prateleiras dela. O processo de trazer meus livros e o resto das coisas para cá continuou se desenrolando e só três meses depois, no dia 14 de outubro, eles chegaram. Meu tio enviou tudo por uma transportadora que no dia anterior à chegada tinha avisado que as coisas estavam voltando! Eu levei um baita susto, especialmente porque de acordo com o rastreamento ele não tinha nem chegado na minha cidade, simplesmente tinha voltado. Mas no dia seguinte, a van da transportadora apareceu aqui magicamente com todas as caixas, me deixando bem feliz. Eram três caixas bem pesadas. As horas seguintes foram passadas fuçando tudo para descobrir um monte de coisa que eu nem lembrava que tinha e várias outras que eu jurava terem se perdido em algum momento dos últimos anos. Quando eu tirei tudo das caixas e deixei espaço para o meu gato brincar, eu finalmente fui organizar meus livros.
Eles ficaram a um quilometro da praia e a alguns metros de uma lagoa de água salgada então todos eles estavam cheirando a maresia e alguns deles um pouco amarelados, mas eu não sou o tipo de pessoa que se importa tanto com o perfeito estado dos livros. Eu gosto de livros antigos, com marcas e bem usados. Normalmente isso significa que o livro foi muito amado. Imaginem assim: Eu vendo um desses livros para um sebo e alguém que também ama livros usados compra eles. Eles tomaram bastante ar depois que chegaram, mas talvez eles ainda tenham um pouco de cheiro de maresia bem lá no fundo. A pessoa que comprou sente esse cheiro e começa a se perguntar por onde esse livro passou e sobre a vida da antiga dona. Não é exatamente uma história épica, mas o novo dono do livro não tem como saber disso, então cria centenas de histórias sobre porque esse livro tem cheio de mar e está amarelado nas pontas, uma mais louca do que a outra. É isso que eu amo em livros usados, ele tem outras histórias - histórias reais e não contadas - em cada marca, dedicatória e anotação.
Então não, o que me deixou chateada não foi o cheio ou o leve estrago nos livros que eu juntei desde 2007, foi o fato de que alguns tinham sumidos. Eu tinha dez livros a menos do que eu achava que tinha. Considerando que as minhas coisas passaram pelas mãos de diversas pessoas diferentes (eu nunca tive a chance de empacotar minha mudança do Rio - isso é quão maluca minha mudança foi - e depois disso meus responsáveis e adultos interessados fuçaram essas coisas), eu já esperava que alguns livros tivessem se perdido no vácuo, mas DEZ LIVROS INTEIROS incluindo um dos meus Jane Austen foi um baque bem grande. Grande o bastante para que eu não conseguisse me desfazer deles. Eu tinha prometido que ia vender ou doar alguns, como os de séries incompletas (que eu tenho um ou dois livros, mas li os outros emprestados) (estou olhando para você Diários de Um Vampiro. Olhando para você.) e alguns que eu não gosto tanto assim e que podem ser mais amado por outras pessoas. Da última vez que eu me desfiz de algum livro foi para diminuir minha lista de leitura, me desfazendo de livros que eu não leria nos próximos cinco anos ou de livros que eu realmente não gostava e queria vender há anos. Eu vendi 17 livros dessa vez, incluindo um que não era exatamente meu (longa história) e usei o dinheiro que consegui para a Bienal do Livro de São Paulo. Quando meus livros chegaram do RJ a meta era a mesma, vender vários e começar o cofre para a Bienal do Livro Rio de 2017. Mas eu simplesmente não consegui. Eu precisava de tempo com eles. Prolonguei isso jurando fazer até o final do ano e coloquei na lista de coisas que eu precisava fazer antes de 2017, junto com ir a vários médicos e separar roupas para doar, mas quando finalmente decidi ir para a minha estante e escolher livros para vender, eu não consegui outra vez. Eu passei dois anos sem meus bebês e eu não consigo dizer adeus para alguns ainda. Talvez até meu aniversário? Nós veremos.


Era assim que meus livros ficaram na estante no dia em que eles chegaram eeeeeee

É assim que eles estão agora. São mudanças quase imperceptíveis: eu só emprestei um deles e acrescentei alguns outros que foram os livros que eu li nesse meio tempo. Não são todos os livros que eu tenho porque eu só coloco na estante os livros que eu já li, a lista de leitura fica no meu guarda-roupa, pelo menos até minha mesinha ser montada. Além disso, cês veem o rádio ali em cima? É o mesmo rádio que eu ganhei da minha mãe de aniversário de 14 anos e que com quase cinco anos de idade, depois de passar dois anos inteiros em uma caixa, exposto a maresia e de ser trazido em uma caixa com dezenas de outras coisas por mais de mil quilômetros, continua funcionando perfeitamente bem. Agora meu notebook, que praticamente não sai do braço do sofá? SEMPRE QUE EU PRECISO ME VEM COM UM PROBLEMA.

Então, no momento em que este post é escrito, eu tenho exatos 193 livros na estante do Skoob e alguns a menos que isso na estante real que está parada ao lado da minha cama, todos organizados por ordem alfabética de autor. Talvez eu repita meu objetivo de ter 200 livros até o meu aniversário no ano que vem, talvez o novo objetivo seja ter apenas 150. Talvez o mundo acabe oficialmente amanhã e eu precise passar o resto dos meus dias em um abrigo formado por meus livros. Quem sabe o que o dia de amanhã nos trará ou se haverá um dia de amanhã? Pera. Coluna errada né?
G.