Olá e bem-vindo à 7ª edição da coluna de férias do Quebrei a máquina de escrever, o Diário de Bordo, que este ano se chama "Eu desisto". O plano era publicar alguns posts entre o último post e este, mas essa foi uma semana ruim e eu estou apenas tentando sobreviver a cada dia. Vocês vão entender um pouquinho do que eu tenho sentido aqui. No Diário de Bordo 7, ao invés de trazer para vocês acontecimentos frios e puros, eu trarei um monte de sentimentos - não tão diferente do que eu sempre fiz, mas mais abertamente. Eu vou ser horrivelmente sincera e cercar todo mundo de fatos pesados. Eu vou trazer histórias sobre meu Natal, meu Ano Novo, meu aniversário, o começo do próximo semestre letivo (se é que eu vou continuar na faculdade) (mas isso é assunto para o futuro), mas vou contá-las sob uma análise sentimental que só é possível depois de ter enfrentado 2017 inteiro quase sem terapia e ter precisado me autoanalisar constantemente.
Todas as partes do Diário de Bordo 7 receberão o nome de livros clássicos que eu ainda não li e o de hoje, "A insustentável leveza de ser", fala sobre retrospectivas pessoais e como a gente realmente se sente durante o fim do ano. Eu novamente recomendo a leitura deste post com uma caneca de café.

Sentimentos. Muitos sentimentos.
Amém Giphy
Como eu disse em algum momento do ano, muito de 2017 foi passado pensando no que significa ter depressão pela maior parte da minha vida. Uma das coisas que eu notei, é como eu preciso aprender a aceitar o que eu sinto. Eu ainda me sinto como se não tivesse o direito de sentir, especialmente me sentir mal. Ao pensar sobre e avaliar casos recentes de suicídio, eu me dei conta de que ninguém se sente no direito de se sentir mal e muito menos deprimido. É como se a vida não fosse feita para pessoas tristes, então quando a tristeza se torna crônica você precisa fingir. Quando você fica chateada e chora quando é criança, algum adulto te manda engolir o choro. Quando você "fica de bad" quando é um pouco mais velho, a primeira reação é fazer tudo possível para parar de chorar e até mesmo se odiar por ficar triste. Nós minimizamos o que nos machucam e nos criticamos por "chorar por essa besteira", engolimos o choro porque sentir demais nos faz fracos, nós ignoramos sentimentos negativos relacionados a pessoas que amamos, escondemos problemas, não falamos sobre o que está acontecendo. Nós nos pressionamos, ficamos em silêncio, choramos até dormir e gritamos com estranhos na rua porque não podemos gritar com nossos chefes. Nós sentimos que não temos direito de nos sentir mal. E é por isso que nós ficamos doentes.
Dezembro chegou com uma sensação estranha em 2017. Pelos últimos três anos, assim que o mês chega, meu humor fica péssimo. Em 2014, 2015 e 2016 eu não percebi até às vésperas do dia 15 de dezembro que eu ficava mal porque o aniversário da minha mãe estava chegando. Acontece em abril também. Do meu aniversário até o aniversário de morte dela, é quando minha depressão fica pior, quando minha raiva se aflora com mais força e quando a negação toma conta de mim. Eu quero ficar sozinha, mas tenho obrigações a cumprir. Eu quero ficar amuada em um canto, mas eu preciso me levantar da cama e viver. E ao invés de passar o dia de cara fechada e exibindo meu mal humor, eu enfio tudo no fundo do peito e tento existir com um sorriso no rosto. Algo bem pequeno precisa existir para que isso tudo desabe e eu surte. E então todas as coisas que eu não me permiti sentir tomam conta de mim sem permissão nenhuma e são um milhão de vezes pior. Passa um pouco depois do 10 de abril, ou às vezes no dia das mães, mas volta no final do ano, o que me deixa frustrada. Eu sempre quero que o ano termine da melhor forma possível, porque eu amo o Natal e o Ano Novo, mas eu não consigo controlar todos os sentimentos negativos.
A gente nunca fala sobre os sentimentos ruins que surgem em dezembro. Quando o ano se aproxima do fim, a gente pensa "wow, este ano foi uma droga" e promete que o ano que vem será melhor, mas nunca pensa em porquê nos sentimos assim. Ou pensamos "meu Deus, este ano foi completamente insano" e não nos preparamos para o que vem no ano seguinte. Mas ao invés de dizer que 2017 foi horrível e que eu não vou levar nada disso para 2018, eu digo que vou levar tudo comigo para 2018. E não "como um aprendizado", ou "como uma memória de algo que eu venci". Eu passei a maior parte de 2017 deprimida e eu ainda estou deprimida. Meus sentimentos estão completamente fora de controle e eu tenho sentido muito de tudo. Eu não faço ideia do que farei com a minha vida e muito menos eu vejo uma solução. A diferença entre o fim deste ano e o fim do ano passado é que eu aceito tudo que eu estou sentindo. Tudo bem me sentir mal este mês. Tudo bem sentir falta da minha mãe este mês. Tudo bem se o Natal de 2017 não for "o melhor Natal de todos". Tudo bem se eu não conseguir fazer tudo que eu quero. E tudo bem se for o melhor Natal de todos e mesmo assim eu me sentir triste. Eu preciso me permitir sentir. Quando eu aceito o que eu estou sentindo, eu consigo sentir de verdade e não apenas funcionar. Eu existo, ao invés de só subsistir.

Eu acho que esse é um momento em que eu digo algo como "Ah é, inclusive, eu fiz uma tatuagem, apesar de ter dito que nunca faria isso porque tenho problemas de comprometimento. Ooops. Não acreditem em mim nunca". A lua menorzinha é a do dia em que minha mãe nasceu (15/12/1971) e a meia lua é a lua do dia em que eu nasci (18/02/1998).


Vou usar como exemplo o meu aniversário. Meu aniversário de 19 anos foi o melhor aniversário que eu já tive. E eu passei a maior parte dele com vontade de me esconder em um banheiro e chorar. E eu me enfiei no quarto de hotel assim que pude e fiquei comendo torta de chocolate e assistindo especiais de The Thundermans. E ainda foi o melhor aniversário de todos. Eu me lembro exatamente como eu me sentia, e como não foi o meu momento mais feliz de todos, mas ainda foi meu melhor aniversário. Eu só disse a mim mesma é o seu dia, se sinta como você quiser. E é isso que eu espero do Natal. Eu ainda estou magoada por minha família ter esquecido de me convidar para um junta-panelas em 2015 - e por ninguém nunca ter me pedido desculpas - mesmo eu tendo dado 200% de mim para fazer o Natal da família acontecer e eles sabendo que eu estava sozinha. Eu sinto muita falta da minha mãe no aniversário dela e de nossas tradições de Natal. Eu desejo algo do Natal que nem sempre corresponde à realidade. E às vezes é melhor que eu passe datas comemorativas sozinha, porque eu sei como me divertir e tenho minhas próprias tradições. Eu tenho direito de sentir tudo isso. E de me sentir mal. E eu ainda estou fazendo boas memórias e vivendo.
A vida é sobre sentir tudo, bom ou ruim, cansativo ou renovador, doloroso ou acolhedor. Porque quando você não sente de tudo e não se permite sentir de tudo ou finge que está sentindo algo que você não está, você morre. É isso que leva ao suicídio de tantas pessoas que "pareciam tão felizes". Isso e o fato de que depressão é uma doença, mas ainda não é vista como tal. Quando você vê alguém tento um ataque cardíaco ou você liga para a emergência ou, se for médico, faz algo. Quando você vê alguém tendo sintomas constantes de depressão, ignorar e dizer "mas ela parecia tão feliz" quando algo acontece parece ser uma opção plausível. Agora deixa eu terminar o post por aqui, antes que eu abra alguns traumas e reflexos pessoais muito profundos que acabem causando efeitos colaterais fora de controle.
See ya,
G.

P.S.: Eu disse que diria depois quando o e-book da segunda fase de ACDK sai, mas eu ainda não tenho certeza. Só sei que estou frita.