Antes
de começar, eu quero deixar os dados básicos sobre mim. Meu nome é CHLOE.
C-H-L-O-E (algumas pessoas conseguem escrever isso errado). Eu tenho 14 anos.
Moro em uma cidadezinha fora do mapa no interior de um país da Europa, chamada
Forêt. E, eu sou uma fada.
Sempre
que eu falo sobre mim e digo essas quatro palavras – e sim, é permitido as
fadas contar aos humanos sobre a nossa existência, na maioria das vezes eles
não acreditam - a reação é sempre a mesma:
-
O QUE VOCÊ DISSE? – E então eu repito. – ISSO É ALGUM TIPO DE BRINCADEIRA, NÃO
É? – Aí eu discordo – COMO ASSIM VOCÊ É UMA FADA?
E
a resposta é: Uma fada. Com a parte da magia, do trabalho duro, do treinamento
de fadas. E sem todo aquele glamour, asas e varinhas de condão – especialmente
as varinhas. Mas, por mais que isso cause choque, fadas existem. E
sim, nos somos responsáveis pela manutenção dos fenômenos da natureza, como por
exemplo, a mudança de estações.
Mas antes de
falar sobre isso, comecemos do inicio. As fadas existem desde o inicio da
humanidade. Somos como humanos. Nós nascemos, crescemos, nos reproduzimos e
morremos. Vivemos em sociedade, até com humanos às vezes. A única diferença é
que você nasce com poderes e que tem que utiliza-los para ajudar na manutenção
dos fenômenos do planeta. E se um dia você tentar se esquecer disso, o espectro
de cores nos seus olhos vai lembrar você de que é um ser místico. Nos não temos
uma cor de olhos apenas. Temos todas as cores que os olhos humanos podem ter. É
a principal forma de identificar uma fada.
Durante os
primeiros 13 anos da vida de uma fada, nós somos quase como humanos normais,
com a exceção dos poderes, que quase nunca podem ser usados - apenas em festas
de famílias e na festa de celebração do fim do inverno (mais sobre isso depois)
– já que nós não somos treinadas para usar os poderes. Fora disso, nós
frequentamos a escola normal e agimos quando crianças normais.
Mas quando
completamos 13 anos, tudo muda total e completamente. É nessa idade que nós
vamos para uma escola de treinamentos e aprendemos mais sobre nossos futuros
trabalhos, como fadas. A maioria das fadas se transformava em uma das pessoas
responsáveis por manter a ordem natural das coisas em sua cidade ou vila, mas
agora, com o grande número de fadas dispersando para os países que mais
precisam de recursos naturais, a Ordem de Fadas precisou de uma forcinha pra
poder manter funcionando naturalmente. A Ordem de Fadas é o grupo responsável
por cuidar das maiores mudanças na natureza: a troca de estações certa de. São
elas que fazem as plantas nascerem no lugar certo, para tomar a quantidade luz
no verão, ajudam as frutas a nascerem e permanecerem vivas em quantidade
suficiente para os animais fazerem reservas no outono, ajudam as flores a
florescer onde isso é mais difícil, durante a primavera e mais importante,
mantêm o funcionamento de tudo, enquanto a Terra descansa no inverno. Um fato
pouco conhecido, - bem, não para fadas - é que durante o inverno – 3 meses no
hemisfério sul e 3 meses no hemisfério norte, opostamente – o planeta entra em
repouso, hibernando, junto com alguns animais. E então as fadas entram em ação
para garantir que tudo fique pronto para quando o planeta voltar do repouso
para a estação em que mais trabalha, a primavera. Bem, essa parte é mais fácil
de entender na prática. Mas em resumo, as fadas só existem para manter o
equilíbrio em relação a destruição causada pelo ser humano. A natureza
funcionaria perfeitamente se as pessoas não se intrometessem nesse perfeito
funcionamento. Nós fadas, somos como a imagem dos humanos refletida em um
espelho, igual, mas exatamente oposta. Nós somos o Yang do Yin deles – de
vocês? – em relação a natureza. Só que como o número de fadas diminuiu muito,
especialmente após as revoluções industriais e as guerras mundiais (destruição
da natureza, igual a menos fadas), o equilíbrio se torna cada vez mais difícil
de ser mantido.
Mas não é sobre
nada disso que eu quero falar, e sim sobre o meu primeiro “Último dia de
Inverno”.
O Festival do
Último dia de Inverno acontece em todas as escolas de treinamento de fadas, no
último dia do inverno (dã). Nesse festival todas as fadas da Ordem, vão para a
escola em que foram formadas, comemorar meses de trabalho e a chegada da
primavera. É uma das ocasiões em que menores de treze anos podem usar seus
poderes, e as alunas das escolas de treinamento tem a chance de mostrar o que
aprenderam através das competições, e concorrer a uma vaga antecipada na Ordem
de Fadas. Todo ano, todas as fadas estudantes, entre 14 e 21 anos, competem nos
Jogos de Fadas do Último dia de Inverno, para ter a chance de entrar pra Ordem
de Fadas antecipadamente. É um sonho pra maioria de nós, mas é muito difícil
conseguir entrar. Nem sempre há uma vencedora. Mas eu precisava vencer.
Já comentei que
eu fui criada em um orfanato? É, acho que não. Bem, só até meus 7 anos, quando
uma fada chamada Lily me encontrou e me trouxe pra a Escola de Fadas de Fôret.
Ninguém sabe minha origem - nem mesmo eu, sempre que eu perguntava, diziam que
eu simplesmente surgi - mas todos sempre me trataram como tratam qualquer uma
das crianças (geralmente filhas e filhos de fadas da ordem) que crescem em uma
escola de treinamento. No ano em que eu fiz 13 anos, eles me ingressaram
oficialmente na escola, e nesse ano, eu pude participar do Festival como
competidora pela primeira vez.
No madrugada
antes do Festival, eu estava na floresta treinando para a Competição, como em
todas as madrugadas anteriores, quando ouvi um barulho atrás dos arbustos.
Fadas podem sentir qualquer ser vivo em um raio de 500 metros então eu fiquei
surpresa ao me dar conta que não conhecia a energia da pessoa que estava
andando pela floresta àquela hora. Ao me virar eu dei de cara com um garoto –
obviamente uma fada, apesar de ter me surpreendido com isso.
- Oi. – Ele
disse do nada, me fazendo dar um salto pra traz.
- Oh, olá. – Eu
disse, sorrindo, após me recuperar do susto.
Enquanto ele se
inclinou numa reverencia estranha, eu prestei atenção nos detalhes sobre ele.
Ele era um pouco mais alto que eu e parecia ter minha idade, o que era
perfeitamente normal, com o festival tão próximo. Mas se ele estudasse na ala
de garotos da Escola de Fôret, eu teria reconhecido a energia dele ao se
aproximar.
- Meu nome é
Nate. E o seu?
Ele tinha
sotaque. Eu não sabia dizer de qual parte da Europa, mas era um sotaque
claramente europeu. Era uma informação importante já que o nome não ajuda
muito. Fadas da Ordem colocam nomes de todas as partes do mundo em seus filhos.
- Chloe. – A
curiosidade estava me roendo, então eu perguntei - Quem exatamente é você?
- O que quer
dizer com isso?
- Bem, eu moro
aqui desde os sete anos e não conheço você. Ou sua energia. Então você não é
daqui.
- Então a
pergunta certa, não seria “de onde você é?”?
- Uma pergunta
engloba a outra. Quem você é diz muito sobre de onde você veio. – Eu dei de
ombros.
- Então, quem é
você?
Eu cruzei os
braços.
- Eu perguntei
primeiro.
Ele riu.
- Eu sou um viajante.
Um fugitivo, na verdade.
Nate se virou
de volta para o arbusto, o que me vez ficar na ponta dos pés, curiosa.
- E um fugitivo
de onde? – Perguntei.
- Uma escola de
treinamento. Uma longínqua...
- De onde?
Ele se virou de
repente, ficando bem em frente a mim.
- Você não acha
que anda perguntando demais e falando sobre si mesma de menos?
- Não. Não
acho. Você sabe que meu nome é Chloe. E que eu sou de Flôret. Você é que é o
viajante misterioso que surgiu na floresta atrás de mim durante a madrugada e
não está falando muito sobre você.
Ele deu de
ombros.
- Bem colocado.
Mas eu tenho a leve impressão de que ser misterioso fará você se aproximar mais
de mim.
Eu fiquei
vermelha. Muito vermelha. Como um pimentão maduro. Não me pergunte por que,
afinal eu já passei por situações muito mais constrangedoras, mas eu fiquei
tímida. Mesmo assim, voltei ao normal rápido.
- Ou fugir
correndo, por você ser um desconhecido.
Eu me virei e
comecei a andar em direção a Escola.
- Você é
curiosa demais pra se afastar assim, Chloe. – Ele disse com a voz já a
distancia.
- Você não sabe
nada sobre mim.
- Eu sei o
suficiente. Você não vai se afastar do mistério.
- Observe-me. –
E simplesmente saí de cena.
Eu não consegui
dormir a noite (fere meu orgulho dizer isso, mas é a verdade). Eu fiquei encarando
a janela e pensando. Como ele sabia que ser misterioso faria com que eu
passasse mais tempo pensando e grudada nele? Não é só curiosidade. Eu odeio ser
ignorante sobre algum assunto. Eu sempre digo que a única boa ignorância é a
ignorância sobre a ignorância. E quando um garoto misterioso - e bonito (AI MEU
ORGULHO!) - surge na minha frente, eu preciso descobrir tudo sobre ele antes
que eu morra de curiosidade.
Eu sabia que Nate
sabia que eu estava pensando nele. Afinal fadas podem se conectar com a energia
de qualquer ser vivo e como pensamentos são energia, a dele estava impregnada
na minha até os ossos. E eu não me importava, eu não fazia o mínimo esforço pra
parar de pensar nele (certo, eu não tenho orgulho nenhum). Talvez se ele
sentisse o quanto eu estava curiosa sobre aquilo ele deixasse de ser tão mau e
falasse logo sobre si mesmo. Mas provavelmente não. Eu me virei na cama. Se eu
não ouvia o que ele estava pensando ele provavelmente não estava pensando em mim.
E porque não? Eu estava pensando nele. Será que ele estava tão concentrado no
que eu estava pensando que não estava pensando em nada? Se fosse isso ele
provavelmente estaria rindo naquele momento. Eu nem sabia mais o que pensar. Eu
enfiei o travesseiro no rosto, tentando dormir, mas nesse momento o sinal pra
acordar tocou e fomos convocadas para levantar.
Como era o
ultimo dia do inverno, nós acordamos antes do sol nascer já que as festas
começam quando ele nasce. Temos o horário do café da manha e do banho como
todas as manhãs e depois seguimos para o bosque atrás da Escola para o
festival. Como a cidade toda participa dele, já estavam todos lá quando as
estrelas - as fadas competidoras e as fadas da Ordem - chegaram. Os aplausos -
que eu já estava acostumada a ouvir, mas não direcionados a mim - me deixaram
um pouco tonta, mas logo foram silenciados pelo assobio de Janie, a diretora da
Escola de Treinamento de Fôret. Ela começou o "discurso oficial de inicio
aos festejos":
- Cidadãos de
Fôret! Mais uma vez nos reunimos aqui para dizer "Olá" a natureza
enquanto ela desperta. Para celebrar o sucesso dos trabalhos feitos por nossa
Ordem e para testar tudo que nossos futuros defensores aprenderam. Mas
principalmente para comemorar mais um ano de vida!
Então, como
sempre, todos gritaram. Eu nunca gostei dessa parte. Mas o que vinha em seguida
sempre tirou meu fôlego. Primeiro, todos nós olhamos para o horizonte. Então o
sol começa a surgir e iluminar o grupo. Nossos olhos, que possuem todas as
cores possíveis, refletem a luz aos poucos até que todo o grupo esteja
iluminado por uma luz branca intensa. Nesse momento geralmente, as crianças
suspiram e dão gritinhos de animação se movendo e fazendo com que a luz se mova
com elas, mas isso não atrapalha em nada, porque quando isso acontece a luz
reflete nas gotas de orvalho presas nas arvores e formam pequenos arco-íris.
Então a admiração aumenta e a magia do momento (soa como um trocadilho?)
finalmente é quebrada.
Quando o
tradicional burburinho aumentou, Janie assobiou outra vez e começou as
recomendações:
- As barracas e
as oficinas de treinamento e aperfeiçoamento estão abertas a partir de agora.
Crianças, não se afastem dos seus familiares. A comida, como sempre, esta por
sua conta e risco. - então ela sorriu - A música e a magia continuará até que o
sol se ponha, e então saudaremos a nova estação.
Então o grupo
ficou tenso. Janie se virou para o grupo inquieto de competidoras e
competidores no seu lado esquerdo e tudo tomou um ar dramático. Eu achava
aquilo um exagero antes, mas naquele momento estava tão nervosa que o olhar da
diretora fez meus pelinhos saltarem.
- Como sempre
as competições começam ao meio dia em ponto. Exatamente quando o sol estiver no
meio do céu, todas vocês devem estar no lugar em que foram posicionadas durante
os treinamentos. Qualquer fada que se encontrar fora do seu lugar, está
automaticamente desclassificada. As regras são conhecidas, mas mesmo assim, as
repetirei.
“O objetivo é ser
a única a estar em cima do Monte das Selenitas quando a lua nascer. Para
alcançar o objetivo, vocês podem usar todos os seus poderes e seus
conhecimentos. Desclassificação automática caso qualquer parte da natureza, não
participante do Jogo, sofra qualquer dano. Não ataquem uma fada já machucada
até que ela se regenere. E não usem seus poderes exageradamente.” Ela deu uma
olhada em volta do grupo “Alguma dúvida?”
O dia parecia
mais escuro, apesar de o sol ter acabado de nascer. Um vento gelado percorreu
todos nós fazendo alguns soltarem gemidos. Aquilo tudo era obviamente criado
por Janie. Eu simplesmente não me movi e encarei Janie diretamente. Durante
meio milésimo de segundo, eu a vi piscar para mim, mas logo depois passou.
- Sendo assim,
- Ela disse arrumando os óculos – Boa sorte a todos.
Mais uma vez
aplausos e estávamos liberados, até 12h para fazermos o que quiséssemos. Eu
olhei em volta. Não havia nada de interessante por ali, por enquanto, como
sempre. Então eu simplesmente adentrei a floresta.
No momento em
que os sons do festival ficaram para trás, eu entrei no que a minha Treinadora
de Atividades em Campo chama de "Modo Chloe de Concentração". É como
se só existisse a mim e a natureza em volta. Nenhum ser não-vivo, entra no meu
campo de concentração. Sou só eu e a energia viva em volta de mim. E aquela era
a minha ultima chance de treinar para a Competição, então eu corri.
Vencer a Competição
e me tornar fada da Ordem sempre foi uma questão de honra pra mim. Por motivos
simples: Primeiro, não existe nada que me prenda em Forêt. Em 7 anos na cidade,
eu não criei raízes, ou me aproximei de alguém. Eu tentei, não me julguem, mas
as pessoas não quiseram se aproximar da garotinha-orfã-que-apareceu-do-nada e
essa garotinha cansou de ser ignorada e resolveu se dedicar em descobrir quem
é. E essa é a segunda razão. O mistério sobre mim, chega a me tirar do sério às
vezes. Eu nem sei mesmo se meu nome realmente é Chloe. Ou porque meus pais me
deixaram pra trás quando eu nasci - em meio a humanos (!) e não em uma escola
de treinamento como pais fadas normais. Como eu posso odiar tanto a ignorância
se eu ignoro a maior parte dos fatos sobre mim mesma? A Ordem me daria a
oportunidade de descobrir mais sobre meu passado enquanto eu viajaria pelo
mundo ajudando a natureza. A terceira razão é o fato de que é isso que as
pessoas esperam de mim. Elas esperam que eu vença e seja uma fada da Ordem aos
14 anos porque foi pra isso que eu fui destinada. É pra isso que eu me preparo
desde antes de começar a estudar oficialmente na Escola de Fadas. Não sei se é
porque querem que eu vá embora logo, mas eu posso sentir a pressão pra que eu
vença. Até mesmo fora da Escola, na cidade, desejam isso. (Bem, não as minhas adversárias,
mas o resto da cidade) E eu simplesmente não quero decepcioná-los. Eu posso não
gostar da maioria deles, mas eles me acolheram quando eu era uma criança, nada
mais justo do que eu retribuir isso e vencer.
Eu estava tão distraída lembrando a mim mesma os motivos para
vencer a Competição, que nem me dei conta de quando cheguei ao topo do Monte da
Selenita. O Monte da Selenita é um pequeno morro criado pelas fadas atrás de
cada Escola de Treinamento, na cerimonia que autoriza as escolas a funcionarem.
A energia das fadas é tão intensa que quando tantas - ainda mais na puberdade -
se reúnem em um lugar só, é necessário que parte da energia seja canalizada
para algum lugar e esse lugar é o Monte. Ele tem esse nome porque quando a luz
da lua se mistura a energia das fadas, varias selenitas - as pedras da lua -
são formadas. O lugar foi escolhido como ponto de chegada da Competição, por
ser o primeiro lugar que a lua ilumina quando chega a primavera. E a fada que
está lá em cima é a primeira a sentir a energia da natureza em volta acordando.
A simples ideia de ser essa fada me fazia ficar tonta.
Quando percebi que eu estava no topo do monte, eu olhei em volta e
tentei calcular meu tempo, mas a chegada da energia dele me tirou a atenção.
- 10 minutos e 56 segundos. - Ele disse quando me virei e o vi
encostado em uma arvore tranquilamente - É um ótimo tempo, sem obstáculos ou
alguém pra impedir você. Você precisa guardar território, Chloey. Eles vão
atacar você.
- Não me chame de Chloey. - No momento em que eu disse isso, eu me
senti estúpida. Mas no momento seguinte, eu não liguei mais. Eu nem conhecia
ele afinal, eu tinha outros objetivos em mente.
- Mas isso não impediu você de perder o sono pensando em mim essa
noite. – Ele disse, depois de ouvir o que eu pensei -De que você quer que eu a
chame?
Ignorei o primeiro comentário e cruzei os braços.
- Chloe. É meu nome não é?
- É, mas... Você não tem nenhum apelido?
Eu pensei um pouco. Desde que eu me entendo por gente as pessoas
me chamam de Chloe. Srta. Haunt (um dos sobrenomes que dão a bebes fadas de
pais desconhecidos e que me deram quando eu vim para Forêt) as vezes, mas só na
escola. Como eu nunca fui próxima de ninguém, ninguém perdeu tempo me dando
apelidos. Eu simplesmente dei de ombros.
- Oh. - ele disse parando pra pensar. É claro que ele tinha ouvido
o que eu pensei sobre a minha falta de apelidos e estava tentando decidir o que
achava sobre isso. Eu continuei o encarando, simplesmente, até que ele disse -
Ei, você quer ajuda no treinamento?
Eu ergui uma sobrancelha.
- Você já participou de um Jogo?
- Não. Eu fugi antes disso. Mas meus irmãos participaram.
- Você tem irmãos? - "E mesmo assim fugiu?", foi a
pergunta que eu não acrescentei.
- Tinha. Eles morreram em um incêndio na floresta durante o
primeiro ano como guardiães da cidade. - ele falou olhando meus pés.
E foi só aí que eu percebi que estava na ponta deles. Me esticar
até a ponta dos pés é uma mania que eu tenho quando fico muito curiosa. Eu sei
que não faz sentido, mas dizem que é coisa de fada.
- Oh. Sinto muito. - Eu disse quando voltei à pose normal - Foi
por isso que você fugiu?
Ele deu de ombros.
- Também. Eu só perdi os motivos pra ficar. Então, eu fui embora.
– Ele olhou nos meus olhos – Mas a gente já falou demais sobre mim. Você quer
ou não vencer?
Cruzei os braços.
- O que você pode fazer pra me ajudar?
- Eu posso não ter participado de nenhuma Competição, mas eu treinei
e ajudei em treinamentos. E... Você tem que estar pronta pra ser atacada
também. Treinar não te prepara para os ataques inimigos.
- Eu tenho treinado há um ano. Mais até, contando o tempo que eu
treinava antes de ser ingressada na Escola. É claro que eu observei as outras
pessoas treinando. Eu conheço a mente das pessoas com quem eu vivo. Eu estou
preparada para ataques inimigos. – Disse, colocando ênfase na ultima frase.
- Assim, como outras achavam que estavam. Você treinou da mesma
forma que todas as fadas treinam, Chloe. E desde que você mora aqui, qual foi a
última vez que você viu alguém vencer? Ou pior, qual foi a última vez que uma
fada de 14 anos venceu a Competição em Fôret?
Ele me observou por um minuto inteiro, mas não invadiu minha
mente, que estava um caos. Mas eu não movi um musculo. Me recusava a deixar ele
saber que eu sabia que ele estava certo. Me recusava a pedir ajuda pra ele. E
tudo pelo simples fato de que ele não me contava porque ele estava aqui. E isso era
mexer com a minha pior fraqueza de uma forma cruel.
- Ok, eu vou ser justo. Nós competimos. Um contra o outro. Quem
chegar primeiro e guardar o lugar por 10 minutos vence. Se você vencer, eu
respondo todas as perguntas sobre mim que você fizer.
Eu ergui a sobrancelha. Soava suspeito. Ele continuava brincando
comigo.
- E se você vencer? – Perguntei.
- Se eu vencer... Você vai ter que admitir que eu estou certo...
E... Me ajudar em uma coisa.
- Que coisa?
- Eu te conto se eu vencer... Agora, você aceita ou não?
Aquilo era jogo muito baixo.
- Aceito! Mas quando eu vencer, você vai responder todas as
perguntas. Sem exceção. E com respostas completas. Nada de só “sim” e “não”. Eu
quero detalhes.
Ele sorriu.
- SE você vencer, tudo bem. Agora vamos voltar pra sua marca, eu
vou achar uma e começar porque a gente não tem o dia todo.
- Ok.
Eu simplesmente fechei os olhos e voltei a correr. Como fadas,
seria interessante se houvesse tele transporte ou algo assim entre nossos
poderes, mas NÃÃÃO, isso é reduzido a poderes relacionados a natureza e a
energia que provem dos seres vivos e blá, blá, blá. E assim, mesmo correndo em
velocidade inumana, nós levamos dez minutos pra fazer 17 quilômetros. Eu sorri
ao perceber que Nate estava sem folego.
- Você realmente acha que consegue me
vencer? - Perguntei, sorrindo.
Ele suspirou.
- Isso é só treinamento. Pra ajudar
você, Chloe. A Competição é mais tarde. Não esquece disso ok?
Eu ri, mas no segundo seguinte fiquei
na defensiva.
- Mas vamos levar o treinamento a
serio, ok? Daqui a exatamente um minuto nós começamos.
Ele deu de ombros e sem dizer mais
nada, eu fui até minha marca inicial.
No momento exato em que contei um minuto, eu corri.
Corri muito. Como sempre usei a energia em volta pra me impulsionar, e fiquei
muito a frente de Nate bem rápido. Mas era obvio que isso significava ataque. E
dos fortes.
A bolha de ar que ele mandou me atingiu na orelha
esquerda. Me fazendo perder o equilíbrio e a audição no mesmo momento e eu caí
sentada. A audição voltou ao normal rápido, apesar de ter deixado um pequeno
rasto de sangue pelo meu braço, mas o equilíbrio demorou um pouco mais. Mas
enquanto o equilíbrio voltava ao normal eu - aproveitando o fato de sangue de
fada poder se transformar em qualquer coisa - transformei o sangue em
borboletas que mandei na direção de Nate, o que o deixou atordoado por tempo
suficiente para que eu retomasse a dianteira que tinha.
O ataque seguinte foi tão bobo que me fez perguntar
se ele não estava guardando alguma coisa realmente séria para o final. Qualquer
um que cresceu em Foret conhecia o barulho do rio que existe ao redor da cidade
e sabia que o som era constante e só alterado se uma parte da água fosse
retirada de lá. Quando Nate tentou jogar água em mim, eu ouvi a mudança no som
imediatamente - talvez ele achasse que meu ouvido ainda tinha algum problema
depois da bolha de ar, mas ele estava perfeitamente curado - e me desviei do
jato que acabou atingindo um pé de amora atrás de mim. Como aquela quantidade
de água podia ser um risco a planta, meu primeiro instinto foi de secá-la e por
mais que isso me atrasasse foi o que eu fiz. Mas no momento em que eu terminei
de secar a arvore um zumbido começou, como se as arvores estivessem conversando
uma com a outra. E então, eu ouvi um grito. Quando corri na direção do som, que
ainda ficava na trilha até o Monte, vi Nate no chão, atolado em baixo de um
pequeno monte de maçãs. Foi então que eu me dei conta e sussurrei:
- O bônus magico!
Todo ano as florestas são encantadas com algum
feitiço que favorita as fadas que conseguirem desvenda-lo e usa-los a seu
favor. Quando o inverno e os treinamentos começam oficialmente, nós recebemos
uma dica de o que é esse bônus magico, mas raramente alguém consegue
encontra-lo antes da Competição. E eu consegui. O desse ano era claro: cada vez
que você ajuda um ser vivo a floresta ataca um dos seus oponentes te dando uma
vantagem única. A dica desse ano - "Siga seus instintos de fada e não de
competidora" - fazia todo sentido, já que o instinto natural da fada é de
proteger a natureza, mas o instinto natural da Competidora é vencer e isso
incluiria deixar a arvore que Nate atingiu correr riscos de morrer já que isso
significaria desclassificação automática para ele. Eu estava sorrindo quando
passei por Nate e o vi tentando fugir das maçãs que o prendiam cada vez mais.
Só quando eu cheguei a beira do Monte eu senti sua
energia se desvencilhar da das maçãs. Eu sabia o que significava. A partir do Monte,
não existe mais bônus magico. Existe apenas você, seus oponentes e perigos
maiores já que as Selenitas com certeza serão usadas contra você. Mas ainda
assim, eu apenas engoli em seco e continuei correndo, pois eu estava muito a
frente de qualquer forma. Quando cheguei à metade do monte, eu parei pra pensar
em uma estratégia. Nate estava se aproximando e eu cansei de só me defender dos
ataques e não atacar. Eu encarei as Selenitas no caminho.
Selenitas são pedras interessantes. Pedras mágicas,
que não são preciosas porque são frágeis demais pra serem lapidadas. Assim como
as fadas. Não são o principal ser pensante do mundo, porque dependem da
natureza que já provou ser frágil na mão dos humanos. Eu me abaixei e peguei
uma Selenita na mão. Então prendi a respiração. É obvio que Selenitas possuem
energia porque é disso que elas são feitas. Energia da lua e energia de fadas.
Mas eu não imaginava que a energia delas fosse tão intensa. Então usei isso ao
meu favor.
Esperei Nate se aproximar. Depois de um tempo ele
ficou mais cauteloso porque podia sentir que eu estava próxima. Eu sorri,
quando ele apareceu.
- O que você ta fazendo? - Ele perguntou com a
sobrancelha arqueada.
Abri a mão. Tinha conseguido fazer com que a
Selenita se transformasse em uma bola de luz sem calor. Então eu fiz com que
todas as Selenitas em volta se transformassem nisso, a partir da energia que
emanava da minha mão. Nate ficou surpreso e atordoado. E foi aí que eu joguei
todas as Selenitas contra ele. E voltei a correr.
Ele não gritou. Não estava machucado, ou assustado,
apenas não sabia o que fazer ou como fugir. E era isso que eu queria.
Quando cheguei ao topo, eu simplesmente me sentei,
apoiando as mãos no chão. De acordo com a posição do sol, nós tínhamos levado
duas horas naquilo por mais que parecesse menos tempo. Eu suspirei quando a
energia intensificada de Nate começou a se mover rapidamente. Ele finalmente
achou uma forma de usar aquela energia a seu favor. Mas quando ele chegou ao
topo, já era tarde demais. Eu estava lá havia 15 minutos.
- Venci! - Foi o que eu disse levantando e me
aproximando com um salto de gato enquanto ele se livrava de toda aquela energia
luminosa.
Ele suspirou quando a ultima bola de luz caiu no
chão e voltou a ser uma pedra da lua.
- É, venceu. - disse fazendo um bico.
Ele era bonito. Na verdade eu arriscaria dizer
lindo. Talvez fosse o fato de ele ainda estar brilhando de energia um pouco ou
talvez fossem os cachos castanhos caindo na testa, ou as bochechas que estavam
coradas por causa da correria. Mas antes que ele descobrisse que eu estava
pensando nisso, eu balancei a cabeça.
- Mas eu tenho que admitir, - Eu disse quando ele
se sentou e eu me sentei ao lado - que você estava certo. Um treinamento em
dupla ajudou bem mais. E eu ainda descobri o bônus mágico.
- Aquelas malditas maçãs. - Ele disse entre dentes.
Eu ri.
- Aquilo não aconteceria se você não tivesse usado
um ataque tão estúpido e acertado a árvore. Quer dizer, usar o rio? Sério?
Ele sacudiu a mão.
- De qualquer jeito, fico feliz de ter ajudado
você.
Eu sorri.
- E eu agradeço por você ter me ajudado. - Eu
disse, fazendo ele sorrir de volta - Mas eu quero meu prêmio agora.
Ele suspirou outra vez.
- Certo. Promessa é promessa. Mas não seria melhor
irmos lá pra baixo, pra não deixar ninguém preocupado?
- Ah, ta tudo bem. Eles sabem que eu estou aqui em
cima. - Pior, pensei sem dizer, eles sabem que eu estou aqui em cima com um
garoto de energia desconhecida. - Podem sentir.
Ele se deitou na grama.
- Então pode perguntar...
Eu me virei pra olhar seu rosto.
- De onde você é?
- De Moscou. Mas não nasci lá. Apenas vivi lá nos
últimos anos.
- Nos últimos quantos anos?
- 5 ou 6 não sei ao certo. - deu de ombros.
- E onde você nasceu?
- Não sei. Apenas disseram que eu surgi, em uma
Escola na Inglaterra e então me mandaram pra Holanda, Alemanha e então acharam
meus irmãos na Rússia e me mandaram pra lá.
- Porque você se mudou tanto?
- Porque eu sempre fugia. Mas me encontravam e
diziam que talvez eu me adaptasse em outro lugar.
- E o que aconteceu em Moscou?
- Meus irmãos disseram que tinham nascido lá, antes
que meus pais fossem convocados pela Ordem russa, da qual eles faziam parte,
mas quase nunca trabalhavam pois a Rússia é um país bem tranquilo. Na época,
minha mãe estava grávida de mim. Mas então, no ultimo dia do inverno em que
foram convocados eles não apareceram na Escola. E então eles e eu fomos dados
como desaparecidos. Depois disso eu vivi com eles por lá, ajudando nos
trabalhos e estudando quando fiz 13.
- E então eles morreram... - Eu disse lentamente.
Ele virou os olhos pros meus. Tentou ler minha
mente, mas não tinha nada passando por lá no momento. Então eu recebi as
lembranças dele da morte dos irmãos.
- Sim. Foi um incêndio de verão no ano passado. Era
algo normal, mas nesse ano atingiu a casa de uma fada que tinha um bebê recém-nascido.
Eles eram guardiões da cidade e precisavam fazer aquilo. Salvaram ao bebê, mas
não a si próprios. Klaus tinha uma noiva e Enrique ia me ajudar nos
treinamentos pra Competição. Ele ia me ajudar a procurar por nossos pais. Mas
não pode mais.
Quando eu vi uma lagrima ameaçando rolar pela bochecha
dele eu automaticamente limpei com um dedo. Ele me observou. Aquilo era
estranho pra mim. Eu não estava acostumada a ter contato com as pessoas. A
sentir por elas. A me preocupar. Eu não me aproximava de ninguém e ninguém se
aproximava de mim, e eu sobrevivia assim. Mas Nate estava mudando as coisas.
- Sinto muito. - Sussurrei tirando os dedos da
bochecha dele.
Ele coçou os olhos.
- Tudo bem. Mesmo. - Ele esboçou um sorriso. -
Continue as perguntas.
- Ok. Como você fugiu de Moscou?
- Eu simplesmente arrumei minhas coisas e saí durante a noite.
- Mas eles não sentiram sua energia se afastar?
Ele fechou os olhos.
- Foi isso que fez com que eu fosse pego das outras vezes. Mas por
algum motivo não dessa. Ninguém veio atrás de mim. Talvez eles soubessem que eu
não aguentava mais viver ali. Talvez eles quisessem que eu fosse. Ou talvez eu
só fosse insignificante pra eles.
- Oh. – Eu disse simplesmente respirando fundo.
Ele abriu os olhos.
- Você já considerou fugir daqui? Ir pra algum lugar longe, pensar
na vida, descobrir mais sobre seu passado. Só, sumir.
Eu engoli em seco.
- Não. Eu sempre achei que a única forma de sair daqui era pela
Competição ou depois de me formar. – Por algum motivo dizer isso me fazia
sentir vergonha.
Ele pareceu sentir isso.
- Eu entendo. É a maneira convencional. – Ele disse lentamente.
Então se virou e se colocou nos cotovelos pra olhar pra mim – Mas porque você
só pensou na maneira convencional? Não tem nada de convencional em você, Chloe.
Eu fiquei vermelha. Foi inevitável. Eu tentei esconder com medo de
que ele risse de mim, mas ele nem respirou. Então eu respondi:
- Você está enganado. Eu sou muito convencional. As circunstancias
é que não são.
- Então você tenta agir convencionalmente em uma situação não
convencional?
- Sim.
- Então você está dizendo que se você tivesse nascido em uma casa
normal, com uma família e amigos e não vivido sozinha toda a sua vida você
seria como qualquer uma dessas fadas normais de Fôret?
Eu fiquei surpresa pela palavra família ter soado casual pra mim.
Geralmente a menção a minha família trás todas as minhas dúvidas à tona. E
dúvidas não são coisas com que eu consigo lidar facilmente. Mas eu me foquei na
pergunta.
- Não, é verdade. Mas isso não muda o fato de eu ser convencional.
Ele se sentou só pra poder olhar nos meus olhos com mais
intensidade. Aquilo era mau. Covarde. Constrangedor. Mas eu não consegui tirar
os olhos dos dele.
“Qual é o verdadeiro motivo, Chloe?” ele pensou, fazendo o
pensamento vir até mim.
“Já que você tá na minha mente, porque você simplesmente não
descobre?” respondi, um pouco petulante.
Ele piscou, mas não alterou a expressão. Então levantou a mão e
tocou minha bochecha.
- Porque eu quero que você diga. Quero que confie em mim.
“O que ele está fazendo?” foi o pensamento que circulou pela minha
cabeça durante um tempo. Então ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha.
- Eu não sei, tá bom? – Quase gritei. Então eu me virei e abracei
as pernas, deixando o cabelo cair no meu rosto – Eu não sei por que eu quero o
caminho convencional. Porque eu não pensei em outra opção. Eu simplesmente
segui a onda. Me desculpa se eu não sou uma rebelde como você.
Ele
se assustou com a minha reação. Mas eu não podia controlar. Ele estava causando
sensações estranhas em mim.
-
Chloe. - ele disse pausadamente - Eu sinto muito, eu não quis que você ficasse
assim.
Eu
respirei fundo e me virei pra ele.
-
Ta tudo bem. Eu só tive uma reação exagerada.
Ele
balançou a cabeça.
-
Você não acha que a gente devia ir para o Festival?
Eu
já estava recuperada.
-
Você não respondeu todas as perguntas que eu queria fazer.
-
Eu sei falar lá em baixo também. - então se levantou e estendeu a mão para mim
- Vamos?
7 Comentários
Muito legal!! Tu é mt talentosa Juh e vai atrás do que tu quer que tu vai longe! Já vou esperar a próxima parte! :D
ResponderExcluirMuito legal!! Tu é mt talentosa Juh e vai atrás do que tu quer que tu vai longe! Já vou esperar a próxima parte! :D
ResponderExcluirPERFEIÇÃO.
ResponderExcluirSimplesmente amei!
Show! Excelente ^^
ResponderExcluir;)
ExcluirCADÊ O LIVRO DISSO AQUI? CADÊ? QUERO NA MINHA MESA. OMG KAHDAGDAGDJALDA
ResponderExcluirFADAS, E TUDO TÃO BEM CONSTRUÍDO E NOSSA O NATE E A CHLOEY, OPS CLHOE, NOSSA, ME ENSINA A SER VOCÊ, GIU <3
NANSSIDNIDNNAA Que bom que você gostou, aaah. A gente já conversou sobre essa história do livro e tudo pode acontecer né? Veremos dsadndjn
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