Este conto é dedicado à Isabella, que sempre pede que
eu escreva mais quando comenta meus contos.
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eu escreva mais quando comenta meus contos.
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Ando pela praia por cerca de
100 metros antes de fincar meus pés da areia e me sentar.
Na cidade, eu odeio calor.
Odeio ficar tão suada, sem apetite, não conseguir dormir, não ter ânimo pra
fazer nada... É quase a mesma sensação de uma decepção amorosa. É uma decepção
climática.
Por outro lado, eu amo vir à
praia. Amo ficar em silêncio observando o mar em toda sua majestade. Amo enfiar
os pés na areia e sentir o cheirinho de sal. Não ligo de suar na praia. Amo
ficar embaixo do sol por horas e sair de lá com a sensação de que acabei de
receber um abraço caloroso e longo.
Eu sei que sou estranha.
Mas é por isso que meus pais
resolveram me mandar pra Ilhéus como presente de aniversário. Tá, eles só
fizeram isso pra poder ir pra Foz do Iguaçu aproveitar uma segunda lua de mel,
e eu acabei presa com o pirralho do meu irmão e o chato do meu primo. Além disso,
eu tinha pedido um celular novo de presente, não uma viagem. Ainda assim foi
fofo da parte deles me darem de presente algo que eu gosto.
Ah, meu nome é Mariana, mas
todo mundo geralmente me chama de...
- MARIAAAAAAAAA! - Grita
Guilherme de algum lugar da praia, tão alto que chama a atenção de todo mundo.
Eu ajeito os óculos e me
deito na areia ignorando-o totalmente. Só que como eu acabo sendo a única
pessoa que não encara ele, fica fácil demais dele me achar.
- Maria, seus pais não
disseram pra não sair sem me avisar antes? - Ele diz chegando ao meu lado e
tapando o sol.
Suspiro.
- Meus pais dizem muitas
coisas.
- E você nunca escuta.
- Você me conhece bem. - Abro
um sorriso irônico. - Eu não vou embora.
- Ótimo. Então eu vou ficar
aqui com você.
Ele se senta ao meu lado e
meu queixo cai. Era a última coisa que eu esperava.
- Mas e o João? - Sim, o
nome do meu irmão é João. João Pedro, mas de uma forma acabamos virando
"João e Maria".
- Ele ficou com a Rita,
brincando com o Júnior.
Um grunhido escapa antes que
eu possa controlar. Rita é nossa outra tia, irmã da minha mãe e da de
Guilherme, que mora aqui em Ilhéus. Isso é frustrante. Agora Guilherme pode
ficar aqui, me vigiando. Isso acaba totalmente com meus planos.
Deixe-me contar desde o início:
Eu nunca beijei ninguém. Tipo, nunca mesmo o que é muito pra se dizer de uma
garota de 15 anos. E como, pela primeira vez, eu ia viajar sem meus pais eu
tinha planos de conhecer um garoto legal na praia e finalmente ficar com ele. Até
aparecer esse maldito empecilho chamado Guilherme.
Ele tem 18 anos e cresceu
comigo. Nós nunca fomos um com a cara do outro e só ficou pior quando entramos
na adolescência. Ele é um jovem responsável, de acordo com meus pais, então a
única condição para que eu ganhasse essa viagem pra Ilhéus era trazer ele. E
agora eu teria que ficar aguentando esse idiota na minha cola. Melhor virar
freira de uma vez, e economizar todo tempo que gasto em esforços amorosos.
Fecho os olhos e finjo que
não estou mais aqui. Estou sozinha numa praia paradisíaca e o Chace Crawford
está vindo do mar na minha direção sem camisa e molhado, então se senta ao meu
lado e se inclina na minha direção quase roçando os lábios nos meus e sussurra:
- Acorda, você tá babando.
A voz de Guilherme me dá um
susto e o movimento que faço em reação a isso faz com que ele caia na
gargalhada
- Eu não estava dormindo, seu
estúpido. - Digo, me levantando.
- Então você baba acordada?
Eu soco ele com toda a força
no braço. Ele grita agudamente como uma criança.
- Quando o bebê ficou tão
forte?
- Se você me chamar de bebê
de novo vai descobrir que não sentiu nem metade da minha força.
- Ui que medo do bebê.
Eu começo a soca-lo
repetidas vezes e bater na cara dele até que a marca dos meus dedos fica bem
clara em sua bochecha. Acabamos nos engalfinhando na areia. Até que ele joga o
peso no corpo contra o meu e consegue me imobilizar colocando minhas mãos em
cima da minha cabeça.
Sabe aquele momento ridículo
de comédias românticas quando o casal se odeia e de repente acontece uma coisa
boba e que faz os dois verem um ao outro de forma diferente? Então.
Eu nunca tinha percebido que
os olhos do Guilherme são tão profundos. Como se escondessem um mar dentro
deles e... Espera aí Mariana, do que você tá falando? É o idiota do seu primo e
vocês estão brigando. Mas a forma que ele olha pra mim é tão intensa. E ele
fica bonito quando tá bravo... Arg, não, que nojo. Definitivamente eu tomei
muito sol na cabeça hoje.
- Terra para Mariana?
Balanço a cabeça saindo do
transe em que estar nessa posição com Guilherme me colocou.
- ME SOLTA SEU ESTÚPIDO.
- Só se prometer que não vai
mais me bater desse jeito.
- Se você deixasse de ser
estúpido eu não te bateria.
- Você só sabe essa ofensa?
Estúpido?
- Ao contrário de algumas
pessoas, eu fui bem educada.
- Fui eu quem armei um
barraco na praia por acaso?
- ME LARGA GUILHERME.
- PEDE POR FAVOR.
- NÃO.
- ENTÃO VAI FICAR AÍ PARA
SEMPRE.
Eu fico encarando ele com um
olhar bravo. Então a troca de olhares fica um pouco estranha. Seus olhos me
lembram do mar ressacado, com toda sua violência, como a de um animal ferido. Parece
bravo, mas ao mesmo tempo magoado com alguma coisa. Por meio instante, eu sinto
que temos muita coisa em comum. Então ele começa a rir e eu volto ao mundo
real.
- O que foi Maria? - ele diz
no meio da risada - Não consegue se concentrar comigo tão perto?
- Claro que não. Estou com
dor de cabeça por causa do sol e da briga com você. - Invento essa mentira tão
rápido que eu nem se de onde ela vem. Estou na defensiva.
Ele para de rir
abruptamente.
- Quer que eu pegue um
remédio?
É a minha vez de rir.
- Você ri da minha cara e
depois faz a de primo responsável e preocupado? Me poupe Guilherme.
Ele franze a testa enquanto
me olha. Depois dá de ombros tira a camisa (uau, de onde vieram esses
músculos?) e diz:
- Eu vou pro mar. Faça o
favor de não sumir.
Então simplesmente se
levanta e sai. Sumir é exatamente o que eu faço menção de fazer. Só que eu
simplesmente não consigo tirar os olhos dele enquanto ele conversa com alguns
surfistas e depois pega uma prancha emprestada e entra na água. Droga. Ter ele
tão próximo realmente mexeu comigo, queira eu ou não. E ele parece tão
concentrado nas ondas tão intenso. De repente ele parece o cara dos meus
sonhos. Mas ele é só meu primo idiota. É o que repito pra mim mesma. Mas isso
não impede meu estômago de revirar quando ele sai da água todo molhado e se
senta ao meu lado.
- Tudo bem Mari? - Ele
pergunta sorrindo.
- Não me chama de Mari. É Maria.
- Minha voz sai roca e ele ergue a sobrancelha. Então pigarreio. - Eu odeio
Mari.
- Não é pra chamar de Mari e
nem de bebê, anotado. - Ele revira os olhos.
- Estúpido.
Ele ri. Então se deita na
areia. Eu o observo - os olhos fechados, a expressão calma. Resolvo deixar de
lado tudo que me faz ser irritante com ele. Quer dizer, ele pode ser meu primo
chato, mas ele é o cara que me conhece melhor e apesar de tudo, ele se importa
comigo e coisas do tipo. E depois que eu passei a ver ele de outro jeito...
- Ei, Gui... - Digo,
meio engasgada.
- O que foi? - Ele pergunta
abrindo os olhos e me olhando de um jeito diferente.
Sem brincadeira, se eu não
conhecesse ele, diria que está apaixonado por mim.
- Hm... É... Como é beijar?
Logo depois que pergunto eu me
sinto a garotinha mais idiota do mundo. Quer dizer, porque eu estou perguntando
isso?
- Ótima pergunta - É o que
ele responde, simplesmente.
Ergo a sobrancelha.
- O que você quer dizer com
isso?
- Que eu nunca beijei, ué.
Dessa vez eu realmente
engasgo.
- Mas você tem, tipo, 17
anos.
- E você tem 15.
- Tá, mas, porque?
- Sinceramente?
- Aham.
- Eu sou apaixonado pela
mesma garota desde os 15 anos. Mas ela me acha um idiota.
- Hmm... E quem é ela?
Quer dizer, ele não pode estar
falando de mim, pode? Não, não pode... Né?
- Hmmm... Isso é verdadeiramente
ridículo, mas... Você.
Sabe quando a gente é
criança e um menino é muito implicante e nossa mãe diz que ele só faz isso
porque gosta da gente e não sabe como demonstrar? Agora faz todo o sentido. Mas
quer saber, aquilo não provocou o que eu achava que ia provocar - nojo completo
-, na verdade, deu uma sensação boa ter um garoto
como ele gostando de mim.
- Sabe... - Digo depois de
um tempo - Eu comecei a te ver de um jeito diferente também hoje.
Ele se senta.
- Defina "jeito
diferente".
- Por meio segundo... Bem,
talvez mais... Tipo, bem mais que isso, eu quis beijar você.
Ele se vira devagarzinho e
se inclina na minha direção. Não pede permissão ou diz mais nada, apenas me beija.
O beijo é involuntário da minha parte, mas me vejo correspondendo
automaticamente. É simplesmente certo. Perfeito. Não decepciona.
- Como foi isso? - Ele
pergunta depois com o nariz encostado no meu.
Me esforço, mas a única
coisa que consigo responder é:
- Hmmmmm...
E foi assim que os meus
primeiro, segundo, terceiro, quarto e... bem, parei de contar depois disso...
beijos, foram com meu primo idiota embaixo do sol escaldante do verão de
Ilhéus.
E não existe comédia romântica hollywoodiana no mundo que seja melhor que isso.
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