Eu não sou o tipo de pessoa que diz "minha mãe não me entende" e sim "eu não entendo minha mãe". Porque eu realmente não entendo. Não entendo os reais motivos dela de dizer o que diz pra mim, ou pra fazer as coisas como faz. Pra me dar bronca, ou pra gritar tanto. Ou pra ir contra o que ela mesma acredita só por mim. Eu não entendo porque alguém faz tantos sacrifícios, ou porque exige tanto de si mesmo e dos outros. Eu nunca estive lá. Eu não sei como é desse outro lado da vida, onde tudo que você faz é pelo bem de outra pessoa.
Eu só queria poder entender. Faria de mim uma filha melhor, uma pessoa melhor. Alguém que se dedicaria mais e faria melhor. Eu acho que quando a gente nasce, deveria nascer com o mesmo sentimento que a nossa mãe. Só pra não existir nenhuma mágoa, ou dor ou nada que afaste a gente dela. Só pra gente estar no mesmo ponto que ela, pra que a gente pense do mesmo jeito. Por que assim, broncas se tornariam menos frequentes e "colinhos" mais frequentes. E a gente nunca faria algo que magoasse porque saberia com certeza o quanto iria doer. A gente não teria medo de não ser compreendido. E a gente seria mais feliz.
Mas não é tão fácil, a gente vai ter que enfrentar a vida do nosso próprio jeito, aprendendo tudo com um empurrãozinho de quem já save. Porque mãe é como tudo na vida: um dia a gente vai olhar e perceber que finalmente faz todo sentido.
E é isso, mamãe, eu não estou no mesmo lugar que você agora, mas eu já sou muito agradecida por todas as coisas que você fez e continua fazendo por mim. E eu prometo que quando eu chegar no lugar em que você está agora, eu vou me esforçar ao máximo pra fazer o que você faz tão bem quanto você.
Post de dia das mães do ano passado. 

Todo mundo recebe uma herança ao nascer. Essa frase é um dos princípios centrais dos livros da Série Sociedade Inglesa de Oposição. Todo mundo recebe um mundo prontinho quando nasce. Condições físicas, históricas, culturais. Somos jogados em uma família que não escolhemos, herdando dela nossa aparência, forçados a viver em um mundo criado pelos que vieram antes de nós, do qual só temos controle em algumas condições.
A melhor e mais preciosa das heranças que eu recebi e após aproveitar por um tempo maior do que merecia, perdi, foi a minha mãe. Ela faleceu no dia 10 do mês passado, de um ataque cardíaco fulminante. Ela foi a pessoa mais maravilhosa que esse mundo já viu. Era carinhosa, doce, um anjo, alguém impossível de odiar.
Sendo sincera eu ainda não me recuperei totalmente do baque. Ainda sinto o peito pesado e um vazio que não consigo explicar. Ela era meu suporte e meu apoio. Ensinou tudo que eu sei. Sei que todo mundo diria isso, mas minha mãe era realmente a melhor de todas. Ela fez mais por mim do que qualquer mãe que eu conheço já fez por seus filhos. E ela era mais que minha mãe, era minha amiga. A criação que ela me deu foi definitivamente excepcional. Eu lembro do sorriso dela, quando eu dizia isso para ela. Espero ter dito vezes o suficiente.
Se você que está lendo isso é meu amigo, é alguém que me ama ou foi amigo da minha mãe eu peço que ao deixar um comentário, não deixe de forma a me consolar ou me elogiar, e sim, de forma a honrar ela de alguma forma. Deixe alguma lembrança boa dela, ou alguma coisa que faça você lembrar dela. Não existem palavras para diminuir a dor de um luto assim. Não existem textos sobre a morte, frases sobre ela estar em um lugar melhor, histórias sobre perda que façam a dor passar. A única coisa que me faz me sentir bem é pensar na vida dela. Em como foi plena.
Quando me disseram que mais de mil pessoas mandaram textos falando sobre as marcas que ela deixou na vida deles, eu finalmente pude sorrir. Das pessoas que falaram comigo, a melhor frase dita foi "sua mãe era uma pessoa maravilhosa". Minha amiga disse que pela forma que eu falo dela, ela sabe que mamãe era uma pessoas incrível. Quando elogiam a criação que ela deu para mim, dando a ela os créditos de quem eu sou, eu fico mais feliz que com qualquer elogio feito a mim. Mamãe viveu a vida toda marcando cada uma das pessoas a volta dela, e cada uma dessas pessoas, cada uma que possui lembranças maravilhosas sobre ela, é uma celebração da vida que ela teve.
E eu acredito que mamãe deixou um legado para mim. É a minha vez de ser como ela era, de marcar pessoas e usar o que ela me passou e ser a melhor pessoa que eu posso ser. É hora de viver como ela, não para substituir alguém insubstituível, mas para continuar o que ela começou, seguir os passos dados no caminho certo.
Sobre as mudanças que isso tudo trouxe, bem, a principal é que minha guarda agora ficará com meus avós, e eu e minha irmã estamos de volta a Bahia. Na verdade, isso tudo é a maior confusão e eu não vou explicitar tudo aqui. O fato é que a mudança tem sido muito mais traumática do que eu desejava que fosse. O pessoal que lê o blog desde 2011/2012, sabe que apesar de eu ter orgulho das minhas origens, eu não considero esse lugar minha casa há bastante tempo, mas isso seria facilmente superado não fosse pelo clima instalado aqui em casa.
Todo mundo tenta tomar as rédias da situação e acaba perdendo as próprias. Todo mundo está se esforçando para ser forte, ao invés de simplesmente sentir a dor que vem naturalmente com o luto. E com todo mundo abalado as coisas estão fugindo do controle. Não dá pra explicar sem passar dos limites, mas a verdade é que eu sinto falta de ter uma voz, de ter a opinião contada, de ser perguntada o que eu acho melhor ser feito e ter minha resposta considerada. E realmente não queria ter que brigar por coisas que seriam meu direito natural.
Amanhã eu volto a estudar. A escola nova é pesada e com mais aulas do que eu gostaria, mas eu realmente quero voltar logo a estudar. Mês que vem eu volto no Rio, para fazer o vestibular da UERJ. Vou fazer o ENEM também e tentar para a UFRJ e talvez até a UFF. Se não der certo, a Rural. Também vou fazer dois vestibulares daqui (um deles já é dia 18!!!), mas é mais como uma garantia. De verdade, se eu perder nas de lá e passar nas daqui, eu entro aqui, mas tento pra lá ano que vem pra de novo e no ano seguinte e no seguinte até terminar a faculdade aqui ou passar para lá.
Eu amo a Bahia. Tenho muito orgulho de ser baiana, amo esse povo lindo demais, nunca quis nem perder o sotaque. Mas acredito que algumas coisas são feitas para permanecerem apenas na memória, sendo lembradas com saudade ou com a certeza de que foi tudo uma boa lição. Vitória da Conquista é uma dessas coisas. Por isso tento me adaptar, mas faço isso com a certeza de que isso tudo é temporário.
G.

Desculpem a demora por postar isso, foi bem complicado explicar o que aconteceu/está acontecendo, mas finalmente senti vontade de escrever. Obrigada por me deixar desabafar.