BEEEEEEEEEM-VINDOS AO SEGUNDO POST DESTA SEMANA E À TERCEIRA E PENÚLTIMA PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO MÊS LITERÁRIO 2016. Hoje eu trago para vocês uma das melhores pessoas que eu conheço, a mais nova entre as integrantes da Tertúlia e uma das minhas sagitarianas preferidas: Danielle Soares, SENHORAS E SENHORES. O conto de hoje é maravilhoso e é do tipo que te faz querer sair correndo para uma aventura imediatamente. Parece até repetitivo dizer que ele é uma benção para os olhos de vocês, mas ele é. Não é minha culpa se eu só tenho amigas maravilhosas e talentosas. De qualquer forma, eu estou exausta enquanto escrevo isso então eu provavelmente deveria deixar a dona do conto falar agora antes que eu comece a soltar coisas sem sentido:

Fico muito feliz de poder compartilhar a minha ideia aqui no blog. É a primeira vez que faço isso, to meio tensa, mas vamos lá né? Eu tive a ideia do conto no meio de um banho (?) ou talvez tenha sido ouvido aquela música, ou no ônibus pensando na cena de um filme, ou quando a minha amiga me perguntou se eu gostaria de ter uma cena da minha vida sendo gravada. Na verdade, a ideia veio crescendo, mas só me lembro de quando ela surgiu. Acho que a verdade seja dita todo mundo já imaginou como seria se a vida fosse um filme - ou pelo menos desejou - mas é legal pensar que as vezes a realidade tem seus momentos cinematográficos, que são mais especias porque é algo de exclusividade nossa.


– Você lembra? – O garoto perguntou pegando o violão que estava encostado em uma arvore para dar mais espaço para eles.

 Os acordes doces se misturaram a voz afinada numa melodia que Lívia conhecia bem. A música marcava a história deles, fora por causa dela que eles se conheceram, ela nunca esqueceria. Sua voz se juntou a dele, nem de longe ela era tão boa, mas ele não se importava, nada era melhor que o sorriso que ela dava a cada vez que ele tocava a canção.

 – Está ficando escuro – disse a menina com um sorriso abafado – acho melhor irmos Murilo.

Ela levantando e bateu a calça onde pequenas folhas estavam grudadas enquanto deixava um sorriso evidente.

 O sol já havia se posto há horas atrás, eles estavam no ponto mais alto da cidade justamente para ver o céu se transformar com cores vibrantes de laranja, vermelho, rosa e por fim roxo que aos poucos fora dando lugar ao azul pálido que ficava mais escuro a cada minuto até se transformar em escuridão. Abaixo deles agora estava uma cidade acessa com milhares de luzes que do alto não passavam de pontinhos luminosos.

– Tudo bem – respondeu fazendo um biquinho charmoso.

 Ele colocou o violão do lado e levantou. Olhou de relance para a garota ao seu lado enquanto ela dobrava a toalha que forrava o chão que eles estavam sentados, o cabelo longo caído como uma cortina cobrindo o rosto de feições delicadas que lhe pertenciam. Mesmo com o cabelo na frente ele podia ver que um sorriso se formava no rosto dela, num impulso ele a puxou pela cintura fazendo com que ela se virasse pra ele.

– Dança comigo antes da gente ir embora? – sussurrou ao seu ouvido.

– Dançar com você? –perguntou entretida – Isso não é um filme.

– Então imagina que é. – Ele começou a se mexer devagar – Imagina que tem uma câmera aqui e que somos o mais novo casal de Hollywood fazendo milhares de pessoas suspirarem com nossa cena romântica.

– E qual seria o enredo desse filme romântico? – ela deixou ser conduzida por ele em passos vagarosos.

– O garoto quebrado encontra a garota quebrada e eles concertam seus corações juntando suas mentes malucas. – sussurrou. –Dançando depois do por do sol, longe de todos os problemas, criando um universo próprio exclusivamente para eles.

 Eles se gostavam e isso era evidente para qualquer um que reparasse na maneira em como se olhavam. Eram melhores amigos antes de qualquer coisa e a confiança que um tinha no outro era vista nos gestos que entregavam que eram também amantes.

– Ah, mas esse filme nunca seria vendido por Hollywood! – ela contra propôs entrando na brincadeira – Apesar desse enredo ser realmente ótimo.

– Baseado em fatos reais. Hollywood adora historias baseadas em fatos reais.

–Mas ninguém gosta de gente problemática. –Ela parou de dançar, se lembrando de que na vida real nada era igual ao cinema ou aos livros que ela gostava.

 Lívia tentava esquecer todos os dias, mas os problemas eram como pesos presos no calcanhar que a acompanhavam para onde quer que ela fosse sempre sussurrando sobre as separações dos pais, sobre a solidão, sobre se sentir diferente e não ter ninguém capaz de entendê-la, nem mesmo Murilo. Ele tinha os próprios problemas para lidar. 

– Quer saber? – Perguntou ele, quase como se pudesse saber o que ela estava pensando e completou falando bem baixinho ao seu ouvido – Que se foda toda essa gente.

 Os olhos dele brilharam como se tivesse descoberto algo maravilhoso naquele instante. Se soltando dela ele foi mai perto de onde o morro terminava e gritou o mais alto que pode.

– Que se foda toda essa gente!

O eco repetiu as palavras e ele as gritou mais altas, puxou a garota pela mão segurando firme e a incentivou fazer a mesma coisa.

– Isso é loucura. – respondeu insegura.

–Não seja o tipo de pessoa que rotula como loucura algo que ela não tem coragem de fazer. Você é melhor que isso Liv. – Seu tom mudou como se pitadas de raivas fossem adicionadas enquanto falava – pense em todos aqueles hipócritas, em todas aquelas pessoas desprezíveis que nos rotulam dia a pós dia só para...

Ele não precisou nem terminar a frase e a garota já havia gritado com toda a força que tinha. Ele gritou mais uma vez e ela também. Aquilo era como tirar todo um peso, que nenhum dos dois sabia que estava carregando, nas costas.

Ela finalmente estava gritando o que não tinha coragem pra sussurrar. Ela gritou mais forte e outras coisas e se sentiu mais leve, ninguém podia ter ouvido, mas ter falado já era o suficiente.

– Temos que ir. – ela lembrou desconfortável.

 – Eu não quero ir embora. – ele soltou devagar.

 Ela também não queria, quando os dois estavam juntos nada no mundo importava além das suas bocas se encontrando. Eles podiam falar o que queriam ser o que queriam e lá no alto nenhum problema os alcançava.

– Eu não quero ficar longe de você. – ela também desabafou. – E se a gente não for pra casa agora é isso que vai acontecer.

 Murilo observou de perto as pequenas sardas que Lívia tinha na pele morena, completamente imperceptível de longe e incrivelmente encantadoras de perto. Passou a mão pelo cabelo cacheado dela e olhou em seus olhos amendoados a puxando para mais um beijo doce.

– A gente sempre pode pegar o caminho mais longo pra casa. – falou ele e com um sorriso ela concordou.

Ela nunca tinha se encontrando tanto em um lugar como nos olhos castanhos dele, que brilhavam rebeldia e paixão. Passando a mão pela nunca dele de um jeito delicado o beijou como nunca. Naquele momento Lívia não só entendeu, mas sentiu que não importava se eles não eram personagens estereotipados de histórias que se preocupam apenas com o dinheiro. Se a vida não era perfeita ou se os problemas rondavam como lobos a espreita. Eles eram de verdade, eles tinham verdade e isso era melhor do que qualquer filme, porque estava acontecendo e nada nem ninguém podia pará-los.