Olá! Bem-vindos ao post que pode me demitir. Mentira, eu nunca diria nada aqui que pudesse me demitir, mas a verdade é que meus coordenadores vivem me perguntando se eu estou gostando do projeto e eu respondo com evasivas ou monossilábicas e este post será uma resposta mais completa a essa pergunta. Vou falar das partes boas e das ruins com clareza e talvez isso acabe assustado todo mundo, mas estamos aqui para isso. Vamos por partes: Lembram de quando, depois de me mudar para o primeiro apartamento cujo contrato de aluguel eu assinei, eu escrevi o primeiro post da coluna sobre crescer do blog - a Passos e Tropeços - e terminei ele dizendo que o próximo post seria quando eu conseguisse meu primeiro emprego? Eu REALMENTE não pensei que isso fosse acontecer tão rápido.
           Tudo começou em um lindo dia no fim de março, quando, movida por um anúncio de emprego virtual vindo de uma editora, eu me dei conta de que ainda não tinha um currículo. Pior ainda, eu me dei conta de que não tinha nada para colocar no currículo. Considerando que eu fui deixada com conforto financeiro pela minha mãe, eu passei os três últimos anos aproveitando isso e focando em estudar. O probleminha é que o tempo não para e parece que a areia da ampulheta que marca o tempo até os meus 21 anos, está ficando mais fina e caindo mais rápido (eu falei mais sobre isso aqui) e se eu não começasse a trabalhar e me descobrir profissionalmente logo, eu seria alguém sem sustento muito em breve. Seguindo essa linha de pensamento, eu me desesperei. De jeito nenhum que eu me sentia pronta para começar a trabalhar e fazer coisas responsáveis de adulto. De jeito nenhum que eu me sentia jornalista o suficiente para fazer qualquer coisa relacionada a jornalismo. Eu sabia que se esperasse estar pronta ou preparada, chegaria o momento em que eu não teria opção e estaria lascada. Este ano deveria ser o ano das experiências, não? Então vamos colocar experiência no currículo.
             Me levou três dias para conseguir escrever o currículo em si - eu enrolei, bati a cabeça, pedi ajuda, me confundi, esqueci quem eu era, o que fazia, onde vivia, quais minhas habilidades e objetivos... Foi um processo complicado. Passados os três dias, ele estava pronto e mesmo com quase nada além das informações pessoais, ele tinha algo de real e adulto que me deixou bem satisfeita.

"De que outra forma uma garota conseguiria assumir o controle do mundo?" Eu juro que não peguei esse gif apenas porque é mandatório ter gif da Kira em todo post: eu peguei também porque Evil Phoebe merece apreciação semanal faz tudo parte d'O Esquema.
             Naquela mesma época, abriram quatro seleções de estágio para jornalismo dentro da minha digníssima universidade. A primeira delas foi para o Sistema Universitário de Rádio e Televisão, a segunda para a Assessoria de Comunicação da universidade, a terceira para um projeto de parceria entre a TV Universitária e um projeto municipal do curso de medicina e a última, que aconteceria depois dos resultados das três primeiras, para a editora universitária. É bem óbvio qual eu queria mais, mas é claro que eu me inscrevi em todas. Não achei que eu fosse passar em nenhuma - considerando que as seleções eram dentro da faculdade, meu desempenho acadêmico estava envolvido e apesar de não ser tão absurdamente ruim, ele não é um dos melhores. Além disso, não tinha nada no meu currículo. Eu fui mais para me fazer crer que estava fazendo alguma coisa, porque existia uma parte de mim que não queria passar em seleção nenhuma, por ter certeza de que não conseguiria administrar o tempo. Não deixe o universo ouvir o que você não quer.
             As três primeiras seleções aconteceram na mesma semana de abril, três dias seguidos. A primeira foi para o sistema de TV e rádio e envolvia um teste de câmera. Eu estava superconfiante no começo, apesar de ansiosa, até que eu tropecei no tapete na entrada do estúdio, quase caí, fiquei mais nervosa e esqueci como falar palavras em língua portuguesa. Até onde eu sei, ninguém que estava envolvido na seleção tem memórias desse teste (pelo menos foi que o me disseram), o que é ótimo, porque sinceramente foi um dos piores momentos de todos e a primeira parte do capítulo "Giulia Odeia Telejornalismo" da minha vida. A segunda seleção foi a seleção com a equipe de medicina e envolveu uma prova que de acordo com o edital pedia conhecimentos em diabetes, hipertensão e promoção à saúde, mas que foi muito mais focada em jornalismo, graças a Deus. A seleção seguiu com uma entrevista: minha primeira entrevista de emprego, para a qual eu estava tão tranquila que foi quase como se meu alterego sociopata tivesse assumido controle. Na entrevista eu disse que me interessava pelo projeto por minha mãe ter sido da área de saúde e fui tão sincera sobre as outras seleções que jurava que tinha acabado com qualquer chance, mas eu voltarei nisso em breve. A última seleção da semana foi a da assessoria de comunicação, que também tinha uma prova e entrevista, mas foi tão tranquila que eu até me senti melhor sobre o fiasco do teste de câmera.
             Os resultados tinham datas diferentes para sair e a do sistema de TV e rádio saiu no dia da seleção da da assessoria - naturalmente, não passei. O da seleção da assessoria saiu no dia seguinte e eu fiquei em 5º lugar. Não passei porque eram apenas duas vagas, mas dada a concorrência e a nota geral eu fiquei muito satisfeita comigo mesma. Na sexta-feira daquela semana, saiu o resultado da segunda seleção com o projeto de medicina. Haviam boatos (eu sou estudante de jornalismo, tenho passarinhos em todas as áreas que me contam segredinhos) de que eu tinha passado na única vaga disponível, mas eu tentei não me iludir, então, assim que a aula terminou, fiquei plantada no módulo de medicina esperando o resultado. O mesmo não tinha saído até a hora do almoço e eu tinha coisas para fazer, então fui embora. Estava no shopping quando me ligaram avisando que eu tinha passado e perguntando se eu ainda tinha interesse na vaga. Por vários motivos, eu disse que sim.

Spoiler: Um dos motivos é dinheiro.
(Eu não acredito que eu achei um uso para este gif que eu tenho salvo desde 1993. OBRIGADA, DEUS.)
             Agora vamos dividir os motivos: O primeiro deles, foi o mesmo motivo que eu dei na entrevista, ou seja, minha mãe. Não porque ser filha de enfermeira tinha me causado essa atração louca pela saúde ou porque eu me interesse muito na área de saúde e pretenda seguir em jornalismo científico pelo resto da vida, mas porque minha mãe sempre me disse para nunca dizer não a uma oportunidade. (O que, sim, motivou minhas metas de 2015 e 2017 de agarrar todas as oportunidades). E essa era uma oportunidade muito boa. Três pessoas haviam me entrevistado e lido minha prova de seleção e por algum motivo - Deus sabe qual - elas resolveram confiar em mim o suficiente para me dar a oportunidade de fazer parte do projeto. (Esse foi O Esquema: Convencer pessoas de que eu sou responsável e confiável). Outra razão ligada à minha mãe era o fato de que o estágio começaria no dia 10 de abril, dia do aniversário de morte dela. Eu não sei, eu sou maluca e eu gosto de sinais. Talvez se eu fizesse parte de algo na área dela eu me sentisse de alguma forma dando prosseguimento ao legado dela.
             O segundo dos motivos provavelmente foi o fato de que eu queria provar a mim mesma que conseguia. Eu tinha medo de me ver como alguém que sabia o que estava fazendo, de sentir confiança. E a minha vida não foi feita de momentos em que eu me senti pronta, fui e fiz, nessa ordem. Ela foi feita de momentos em que eu não tinha outra opção além de fazer ou que eu resolvi ser impulsiva e fazer, o que me levou a anos depois, pensar no que fiz e reagir com: Cacete, garota. Como você fez isso? Então, eu precisava fazer aquilo. O pior que poderia acontecer era eu ser demitida e ficar sem emprego, mas essa era uma situação na qual eu já estava.
             O terceiro motivo é o seguinte: Eu precisava do dinheiro. Qualquer coisa que pudesse me ajudar já era o bastante e ter uma bolsa regular por pelo menos seis meses era uma benção dos céus. E eu vou admitir para vocês: Precisar do dinheiro muitas vezes foi o motivo para eu não desistir de tudo durante esses quatro meses de estágio.
             Haviam alguns contras na minha decisão. Tinha a falta de tempo, que era a mais solucionável de todas, mas tinha outro problema: aceitando esta seleção, eu não poderia entrar na da editora universitária e fugiria completamente da minha área. (Voltando ao que eu disse antes, na entrevista perguntaram se eu abandonaria o projeto caso passasse em outra seleção, porque eu sou bocuda e fui falar das seleções. Eu menti, mesmo sabendo que se passasse para a editora eu abandonaria o projeto, sim. No fim, eu me senti tão culpada por ter mentido que acabei nem fazendo a seleção da editora, para não correr riscos). Na época, eu estava muito em crise sobre não me sentir uma escritora de verdade (também falei mais sobre isso aqui) e a simples ideia de abandonar algo que ligaria literatura e jornalismo, por algo que fugiria completamente de quem eu quero ser me causou pânico. O que pesou na minha decisão foi o velho ditado "mais vale um pássaro nas mãos do que dois voando", a culpa supracitada e o fato de que eu sentia toda essa ligação com a minha mãe. Eu me arrependo dessa escolha, sim, mas ao mesmo tempo, foi sentir que não estava na minha área o suficiente que me fez tomar a coragem de editar um dos meus livros e mandar para um concurso literário importante - entre outras coisas malucas que eu fiz pela literatura este ano (se vocês soubessem a metade). Eu prometi a mim mesma que não abandonaria o que eu amo e o que eu quero ser e, mesmo que às vezes eu precise desativar o WhatsApp ou literalmente dizer aos meus coordenadores "este fim de semana estarei ocupada", eu ainda não descumpri esta promessa.

"Eu não fiz nada produtivo o dia todo." Ah, eu lembro de quando isso era uma opção.
             Eu disse sim ao estágio e comecei na semana seguinte. As primeiras semanas foram, hm, horríveis. Parecia que eu tinha sido jogada de cabeça para baixo em uma panela de óleo fervente e várias pessoas diferentes estivessem tentando decidir qual era a melhor forma de me fritar, de acordo com seus gostos pessoais. Sem exagero. Ninguém me dizia coisa nenhuma, reuniões envolviam longas esperas que acabavam comigo mentalmente e o trabalho era dividido sem equilíbrio nenhum. O projeto é uma inciativa americana que envolve o investimento da saúde básica do município. Eu fui convocada pois a ideia era criar um programa de saúde que iria ao ar semanalmente na TV universitária. Como o projeto atinge diversas áreas na cidade, temos o total de 41 bolsistas (aka estagiários). Quarenta são da área de saúde. A trouxa que vos fala é a única de comunicação.
             Nas primeiras semanas, cada um tinha sua ideia do que fazer. Meu trabalho era feito de acordo com orientações direcionadas pelos meus três coordenadores, mas eu não havia sido ensinada a fazê-lo apenas me passavam as orientações do que fazer. Tentativa e erro. Tentativa e erro. Tentativa e erro. Eu achava que sabia o que estava fazendo porque conseguia acompanhar o ritmo de um coordenador - aí descobria que o outro queria algo completamente diferente. Tentativa e erro. Tentativa e erro. Tentativa e erro. Eu descobri que os bolsistas de medicina passaram por reuniões com a orientação do projeto, conheceram alguns dos responsáveis americanos e da direção do projeto no Brasil. (Uma vez um colega meu que é assessor me perguntou sobre um evento do projeto com os estagiários, durante meu horário de trabalho, e eu nem sabia de nada). A bolsista de medicina que havia sido convocada para fazer a mesma coisa que eu tinha recebido o programa piloto, visto todo o projeto em si e sido orientada. Eu no primeiro dia precisei correr atrás do coordenador geral, porque minha coordenadora não havia entrado em contato comigo e quando eu consegui encontrar minha coordenadora, fiquei três horas em uma sala de espera, sem saber o que fazer exatamente. Tentativa e erro. Tentativa e erro. Tentativa e erro.
             O momento do colapso nervoso foi quando, antes do feriadão de 21 de abril, eu recebi uma ligação. Minha coordenadora me disse que haviam informado a ela que eu não estava comparecendo à TV para fazer meu trabalho, quando eu estava fazendo todo o trabalho em casa e comparecia à TV quando eu cria ser necessário. Ela me informou que eu precisava cumprir horário, mesmo tendo sido me passado que não era necessário anteriormente e precisava fazer isso o quanto antes. Foi quando eu me dei conta de três coisas: 1) Meus coordenadores não conversavam entre si e não faziam a mínima ideia do que fazer comigo. 2) Se eu não assumisse o controle e me tornasse a Giulia 2.0 eu enlouqueceria em menos de dois meses de estágio. E 3) Eu precisava urgentemente de limites.
             Pensando agora, eu me dei conta de que foi bem nessa época que meu eu superansioso e bem doente desapareceu. Eu disse que só faço as coisas se não tiver opção e foi assim que eu me senti naquele momento. Mandei e-mails enormes nos quais você sentia minhas lágrimas de raiva e que poderiam ser resumidos com a frase: Pelo amor de Deus, conversem entre si. Implorei por um cronograma e por uma explicação mais específica do que precisava ser feito. Comecei a cumprir horários (o que foi bom para a minha produtividade), mas me recusei terminantemente a fazer qualquer coisa que levasse mais de 10 minutos em casa. Realmente disse "este fim de semana não estarei disponível" quando foi necessário e foquei em cumprir apenas 20 horas. Eu sabia que estava fazendo o meu trabalho. Ele não era perfeito e Deus, como eu errei no começo e erro até hoje. Mas eu queria fazer tudo da forma certa, estava pronta para ouvir o que quer que me dissessem de feedback e estava consciente de que tinha muito o que aprender. Isso me mudou muito e me moldou muito. Eu precisei ficar consciente de mim mesma e deixar de ser a pessoa que não fazia por não me sentir pronta, mas ser a pessoa que dizia: Ei, eu fiz. Agora me diga o que eu posso aprender para fazer melhor da próxima vez.

"E aí eu fico tipo 'Quem liga? Eu sou incrível'". (Este gif não está se mexendo mas eu sou preguiçosa demais para achar a versão dele se mexendo, então sigam em frente)
             Meses depois, o estágio ainda é a parte mais enlouquecedora e mentalmente exaustiva da minha vida. Eu estou completamente resoluta a não me envolver com pessoas de fora da minha área ou com telejornalismo nunca mais. (Pequeno detalhe: O programa foi cancelado e agora meu trabalho funciona de forma diferente. Atualmente eu mexo com jornalismo digital e um pouco de radiojornalismo, mesmo que eu continue cumprindo horas na TV porque tenho minha mesa lá e preciso das minhas horas reservadas para o estágio. Apesar de eu amar muito aquela redação e os produtos dela, eu nem posso começar a descrever quão feliz eu estou por não precisar trabalhar mais com tele. Claro que eu tenho Oficina de Telejornalismo este semestre então estou completamente frita, mas isso é assunto para outro post.). Eu também descobri muito sobre o universo da medicina e como os médicos veem a si mesmos e ao mundo e, nossa, é de abrir os olhos, tanto para o lado positivo quanto para o negativo. Eu não vou ser injusta e dizer que não sou grata por esse estágio e tudo que ele me ensinou. Tanto profissionalmente quanto enquanto ser humana.
             Eu nem me reconheço direito, pra falar a verdade. Me sinto mais confiante para cometer erros e assumir responsabilidades. De alguma forma, eu acabei na comissão de formatura da minha turma, além de ter estado envolvida diretamente na organização da semana de integração e na recepção dos calouros. Comecei um curso de espanhol para intercâmbio, fiz curso de oratória, fiz teste de proficiência em inglês (leitura avançada e compreensão independente, parece até que é inteligente a menina), me joguei de cabeça no que podia para avançar a escrita. Eu chamo isso tudo de Projeto Currículo Top 2017. Meu currículo vai sair de 2017 me dando orgulho, por bem ou por mal. É bom sentir que eu realmente estou fazendo algo, mesmo que eu me considere louca por estar fazendo tanta coisa. É bom me sentir adquirindo experiências e crescendo. E de vez em quando, é bom me sentir mais organizada que meus coordenadores que têm doutorado (eles que não me leiam). Gosto do caminho que eu estou seguindo e fico muito feliz por quem quer que tenha sido a fadinha que convenceu o pessoal da entrevista a confiar em mim.
G.

P.S.: Sexta-feira é meu meio-aniversário, ou seja, DIA DE POST DA É SÓ UMA FASE. Estou avisando porque esse vai ser uma das melhores atualizações da minha vida que já foram escritas aqui. Se preparem.