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"Quem aqui não faz ideia do que está fazendo?" |
Existe muito que possa ser dito sobre Grey's Anatomy e existe muito que está sendo dito, o tempo inteiro, sobre Grey's Anatomy. Depois de 16 anos de série e 17 temporadas, eu diria que a maioria dos takes sobre a série já foram feitos, mas isso não quer dizer que as pessoas vão parar de falar. Eu tinha certeza absoluta de que eu nunca veria a série — porque ela é muito longa ou porque ela é muito popular e eu tenho birra com tudo que é muito popular. Fui influenciada a começar pelo GreysTok — a comunidade de Grey's Anatomy no TikTok. Cada vídeo me convencia mais e mais de que era uma boa ideia, mas no fim das contas foi esse vídeo aqui que me convenceu a começar de uma vez.
Original video: https://t.co/C6hCTv57P2 pic.twitter.com/9q91acMPqD
— GIULIA (@giuliasntana) October 14, 2021
Como eu sou muito boiolinha por almas gêmeas platônicas, resolvi me jogar e assistir às 16 temporadas disponíveis na Netflix. Eu trabalho sempre com uma série de plano de fundo e Grey's Anatomy me daria vários meses sem ter que pensar em escolher outra série pra fazer esse trabalho, certo? ERRADO. Eu não contava com isso, mas rapidamente fiquei obcecada pela série. Eu colocava no tablet e deixava os episódios tocando enquanto tomava banho! Cheguei a precisar deixar o tablet no arroz por causa disso. No fim, consumi 16 temporadas em 8 semanas. Isso mesmo, duas temporadas de cerca de 22-25 episódios por semana!!
Não me entendam errado, eu já tinha assistido alguns episódios da série: Em aviões e quando eu ficava com preguiça de mudar de canal na TV. Assisti uma boa parte da 6ª temporada, assim como eu assisti uma boa parte da 6ª temporada de Supernatural por exemplo. Eu também conhecia diversas storylines e spoilers importantes, por causa da minha timeline do Twitter e por conhecer muita gente que assiste à série. Eu sabia o que esperar... ou pelo menos era isso que eu achava.
Quando a gente ouve os pontos principais da série através de conversas paralelas, ela parece uma série dramática normal. Eu escrevo drama (alô A Linha de Rumo), eu sei que os momentos de reviravolta e indecisão são importante. Também sei que trair a audiência é importante uma vez ou outra. Mas a questão com Grey's Anatomy é que a série é a líder em dramas e ela é a líder em dramas por um motivo. Não é só sobre os momentos de choque é sobre o aftershock. É sobre criar personagens tão complexos e tão bem feitos que você sente com eles e você conhece eles.
A série é uma das que mais gasta dinheiro para não ter spoilers vazados durante as gravações com contratos complexos e certeiros, mas os fãs mais atentos percebem o que vai acontecer em seguida, através de contexto. Como escritora, é isso que eu quero: Criar um universo tão bem feito que as pessoas não só consomem ele, mas vivem ele e conhecem ele. Personagens que podem ser tocados e acessados através da tela. Cujas discussões ultrapassam a escrita e movem o mundo para a frente.
"Reconhecer sua merda e superar sua merda são duas coisas muito diferentes" |
Grey's Anatomy me fez uma escritora melhor, mas também me fez uma pessoa melhor. Como alguém que consume muita mídia — e eu digo MUITA MÍDIA (100 mil músicas por ano, mil episódios de série, livros, podcasts, filmes) — eu já me acostumei a usar mídia para explicar sentimentos, sensações e impressões. Lembra do post sobre arromanticidade, que eu usei gifs de ABC do Amor? Antes de me entender arromântica, eu já usava a cena do personagem vomitando para descrever a sensação de me apaixonar. É sobre isso. Grey's Anatomy me trouxe um nível completamente de compreensão sobre mim mesma e sobre o mundo. Quando você acompanha personagens crescendo por 16 anos, você aprende uma coisa ou duas. A escrita da série exige um nível de sensibilidade e compreensão da humanidade que ultrapassa a de qualquer outra série que eu já assisti (e eu já assisti série para caralho). Eu sei que a maior parte da TV não tá nem aí pra qualidade da história e pro que está sendo dito, mas os escritores de Grey's me ensinaram que uma forma de criar algo que ultrapassa décadas é saber do que você está falando.
Eu não sou ingênua. Eu sei bem que todo o drama das primeiras temporadas da série (e até mesmo o drama que a Ellen Pompeo ainda causa hoje em dia) foram fundamentais para a fama e o estabelecimento da série na mídia. Mas nada que custa tão caro e que envolve tantas pessoas não vem carregado de drama e polêmicas. E pra falar a verdade, quando eu assisti eu nem estava pensando nisso. A série também não é perfeita — apesar de eu achar que a série fez um bom trabalho resolvendo problemáticas que abriu em temporadas antigas — e o meu maior problema com ela é a propaganda militar, que me fazia querer pular vários episódios. Mas se você acha que a sua série preferida é perfeita, está fadado à decepção. Saber criticar o que você ama enquanto ainda aproveita o conteúdo é uma parte importante do ato consumir conteúdo de forma saudável... Mas eu vou parar por aqui, ou eu começo a falar mal de New Amsterdam. E este post não é sobre New Amsterdam.
"Ah, que se ferre linda, eu sou brilhante! Quer me agradar, elogie meu cérebro!" |
Eu não sou uma grande apreciadora do cinema. Eu não percebo pequenos detalhes cinematográficos a menos que me mostrem eles diretamente. Minhas opiniões sobre entretenimento se resumem a se eu fui entretida ou não. Séries que exigem que você pause a tela e aprecie cada pixel de imagem para entender todo o contexto me deixam cansada e normalmente fazem com que eu leve meses para terminar. Então talvez minha opinião sobre o brilhantismo de Grey's Anatomy entre por um ouvido e saia pelo outro de muita gente. Mas eu continuo achando que se você despreza a série por ser um pedaço de cultura pop ultra popular, você pede a oportunidade de experimentar um universo criado com muita delicadeza e sensibilidade.
Séries que te fazem chorar, que te fazem sentir, que te ajudam a reconhecer traumas e vivências que te prejudicaram não são piores do que séries que explodem sua mente por usarem palavras grandes e teoremas científicos. A arte precisa te fazer sentir — e não só de um jeito extraordinário, mas te mostrando que a vida é feita de sentimentos ordinários que te levam ao capítulo seguinte.
Até a semana que vem,
G.
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