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Algumas semanas atrás, na última sessão do ano, minha psicóloga me perguntou como eu definiria este ano e eu finalmente parei para pensar como eu realmente me senti sobre 2022. Eu tinha, recentemente, me sentido meio presa a uma rotina meio chata, sem crescimento real profissionalmente. Conscientemente, eu sabia que não era exatamente verdade, mas que eu estava enxergando tudo com uma luneta e me comparando a outras pessoas. Naquele momento, porém, eu finalmente pude pensar e a minha resposta foi "Eu acho que um dia eu vou olhar para trás e pensar que não chegaria onde eu quero se não tivesse feito o que eu fiz em 2022."

2022 não foi um ano interessante. Não teve grandes mudanças acontecendo, experiências fodásticas e nem grandes evoluções pessoais. Eu passei a maior parte do ano trabalhando, reclamando de falta de dinheiro e consumindo mídia. Quase não saí de casa, a ponto de ficar maluca comigo. A Bienal, em novembro, me fez perceber o quanto eu senti falta de eventos sobre temas que eu gosto, onde eu me sinto conectada com o que amo sobre o mundo. E também me fez perceber o quanto a falta de dinheiro me deixa isolada de mais momentos assim.

Mesmo no trabalho, não é como se eu tivesse muito para mostrar: Minha meta no trabalho de horário comercial está quase sendo alcançada, eu fui de 98 para 1047 inscritos no YouTube, consegui meus primeiros reels de mais de 10K no Instagram, fui semi-viral no TikTok de novo, escrevi outro livro inteiro, mas dessa vez em inglês, experimentei bastante com a curatela de playlists, antes de deixar de lado, pelo menos por enquanto. Nada disso é exatamente um prêmio vencido ou 100 mil reais em uma semana. Mas continuam sendo pequenos passos no caminho certo que me fazem pensar no futuro e como eu vou ser grata.

Também foi um ano emocional e visualmente cansativo. Porque enquanto eu fiquei presa a telas, seja para o trabalho, seja para a diversão eu tive que ver o mundo se dividir nos temas mais absurdos e de humanidade. Seja durante a eleição, que me levou a perder mais de 400 seguidores no Instagram, seja por ver pessoas que eu confiava atacando uma vítima de violência doméstica de uma forma bem cruel. Seja até mesmo por causa do tapa do Will Smith, que rendeu alguns dos comentários mais absurdamente decepcionantes do ano. O ano causou tantas divisões que eu precisei dividir minha timeline do Twitter em duas: com meu user profissional @giuliasntana em uma nova conta e usando o user @giuliasdopamine na conta antiga, para deixar só as coisas que me deixam feliz e trazem dopamina na timeline. E aí é claro que veio o Elon Musk e matou o Twitter, que agora tá esperando só ser enterrado.

Falando em dopamina, também, 2022 foi um ano complexo para a minha saúde. Um ponto alto foi ter começado a tomar medicação para TDAH, depois da minha psiquiatra me lembrar que eu não precisava lidar com um transtorno que é considerado deficiência na maioria dos países, sozinha. Pontos baixos incluíram: Ter exames de sangue que indicavam baixa imunidade completamente ignorados por não um, não dois, mas três profissionais de saúde por causa do meu peso, a única coisa que eles conseguiram ver. Por causa disso, não alcancei minha meta de me alimentar melhor e saber o que comprar na feira do mês para ter comida suficiente em casa, o que fica agora para o ano que vem. Outro ponto baixo foi que eu precisei fazer uma cirurgia pela primeira vez. Dental, mas ainda cirurgia. Ponto no céu da boca é o inferno.

Mas o pior de tudo, foi a mudança na medicação de depressão e ansiedade. Eu não vou dar detalhes dos motivos porque essa história ainda está incompleta, mas basicamente um dos meus medicamentos foi removido (com meu consentimento) e esse medicamento tinha mais controle do que eu imaginava sobre meu sono e minha alimentação. Isso resultou em mais de 45 dias sem conseguir dormir por mais de 4 horas por noite. Um inferno na Terra. Eu nunca estive tão miserável quanto naqueles dias. Outros remédios tentaram corrigir esse problema, mas no fim das contas a única solução foi o Dramin, que me foi oferecido quando eu fui parar no hospital com dores abdominais por causa de um dos remédios pra dormir que me foi sugerido. Eu não uso ele como remédio para dormir, mas depois de tomar na veia, voltei a conseguir descansar (mas pior do que quando tomava o outro remédio remédio). Eu também não vou dar detalhes sobre a minha perda de peso, porque eu estou cansada das pessoas verem ela como algo positivo. Eu não consigo comer, mal tenho apetite e hoje eu percebi que minhas unhas estão quebrando e que eu já com deficiência de mais coisas. Sim, eu perdi peso de uma forma óbvia, não eu não estou mais saudável do que quando era considerada "medicamente obesa" e eu tenho exames anuais que provam isso.

Mentalmente, porém, eu estou bem. O que seja a ser engraçado. Em outros anos, incluindo ano passado, eu reagiria de uma forma muito diferente aos infernos que eu passei neste. Eu me sinto mais madura e mais segura, mesmo que ainda seja frustrada em diversos passos. Estou simplesmente mais difícil de bater. Tanto que no meio do ano eu publiquei esse vídeo aqui, sobre minha sexualidade, que me tirou oficialmente do armário para a família inteira e me trouxe resultados muito positivos. Acho que essa resolução pode ser por causa do meu aniversário de 25 anos, que se aproxima lentamente.

Uma outra surpresa positiva deste ano foi a chegada da dança na minha vida. Eu queria ter feito mais e investido mais tempo nela, mas eu sei que fiz o que pude fazer nas condições que encontrei este ano. Mas é engraçado como eu nunca pensei que fosse gostar tanto de dançar e da dança contemporânea e ouvi várias vezes que meus olhos brilham quando eu falo no assunto. Eu realmente gostei. É um exercício que faz sentido para mim, que funciona para o meu corpo.

Um ano atrás, eu disse "eu sequer quero chamar 2021 de o pior ano da minha vida, ou um dos piores anos da história, porque parece que eu estou provocando o universo a fazer pior". Essa ideia parece ter funcionado, porque 2022 não foi pior. E na verdade, tudo que eu queria que se resolvesse no fim de 2021, se resolveu este ano. Minhas metas grandes, em especial as para "antes dos 25 anos" não foram alcançadas, mas eu criei novas metas Então, eu não tenho de que reclamar. O que eu tenho são coisas para fazer! Porque eu quero que 2023 seja melhor. Não provocando o universo, de novo, somente porque eu acho que este ano montou uma base legal. E eu quero pular dela para alturas mais altas.

Este ano eu resolvi separar as retrospectivas em 3: Esta é a pessoal. Caso queira ler sobre a mídia que eu consumi (séries, livros, música e filmes), clique aqui. Caso queira ler sobre escrita e conteúdo, clique aqui.

Até 2023,
G.