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CHEGUEI!!! E trouxe o post atrasado comigo. Considerando que eu mencionei este post na última Aula de Escrita Criativa de 2022, mesmo ele não estando pronto, eu achei justo publicar ele hoje, na  2ª segunda-feira do mês — quando normalmente teria aula, se eu não tivesse dado férias a mim mesma. Inclusive, se você não assistiu ainda à última aula do ano, a hora é agora. Dá para ouvir no Spotify também!

Apesar dos pesares e da absoluta falta de publicações literárias, 2022 foi um ano importante para a minha escrita. Eu me movi em silêncio e acabei não só encontrando um prazer absurdo no ato do escrever de novo, como também escrevendo e produzindo muito para o trabalho, me lembrando que eu sou, sim, profissional. Eu aprendi muito também, seja produzindo, seja consumindo as escritas alheias.

Eu nunca me senti tão confiante na minha própria escrita e tão segura de que não sou uma impostora. A Bienal do Livro me fez perceber que o truque para acabar com a síndrome de impostor é não ter referências vivas e não levar ninguém da área muito a sério. Claro que, logo na primeira semana de 2023 a Emerald Fennell arruinou essa lógica para mim, se tornando uma referência viva, mas quais as chances de eu um dia estar no mesmo ambiente que Emerald Fennell como colega de trabalho, né? (NÉ?) (Eu estou perguntando de verdade: ?)

Mas voltando à questão da confiança na minha própria escrita e na qualidade dela, isso é um sentimento permanente? Muito provavelmente não. Como eu falo nas Aulas, o mais importante é continuar se desafiando. Conforto pode atrapalhar o crescimento e algumas coisas que valem à pena vêm acompanhadas do medo. E se e quando ele voltar, será a hora de ter coragem.

Em 2022 o diário do NaNoWriMo foi registrado no YouTube, ao invés daqui no blog, mas mesmo que eu já tenha falado muito por lá sobre o assunto, eu quis escrever um pouquinho sobre o que eu senti que mudou na minha escrita em relação aos anos anteriores e os aspectos que eu percebi que melhorei. Todas as coisas que me fazem me considerar uma escritora melhor. Porque é o tipo de registro que eu também vou querer ter no futuro. COM UM BÔNUS: De presente para vocês, eu resolvi traduzir alguns trechos de Ira, meu livro do NaNo, que foi escrito em inglês. Aproveitem!

ANTES, O RESUMO DO ANO NO BLOG

Postagens em 2022: 12
Total de postagens até o fim de 2022: 527
Postagem mais popular do ano: 101 livros disponíveis no KindleUnlimited para começar a ler hoje
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Total de visualizações de página até o fim de 2022: 602.760


ESCREVENDO O QUE EU QUERO LER

No dia seguinte à minha chegada, outra pessoa também o fez. A Princesa Amelia tinha seis damas, um vestido elegante e o privilégio de não só saber para onde ia, mas porque ela estava lá. Não me levantei quando ela entrou pela primeira vez na sala em que eu estava tomando café da manhã e mantive meu orgulho com um rápido "Sua Alteza" na sua direção. O que eu queria fazer de verdade era gritar “POR QUE CARALHOS VOCÊ ESTÁ AQUI?”

Uma coisa que a gente ouve muito quando começa a escrever é justamente para escrever aquilo que a gente quer ler. E escrever com essa lógica deixa as coisas bem mais fáceis. O estranho é que depois de um tempinho de carreira, a gente acaba se prendendo em amarras que a gente mesmo criou. Eu cresci escrevendo jovem adulto/young adult(YA) e vários dos meus projetos que estão esperando reescrita são YA. Quando você escreve quatro livros para uma faixa etária específica pode parecer que é mais fácil continuar nessa área e qualquer mudança é um desafio.

Mas eu percebi mais e mais que eu não quero escrever YA tão cedo. Porque não é o que eu tenho lido não é o que eu quero ler. E porque eu não tenho mais 17 anos e quanto mais velha eu fico, mais difícil fica me identificar com livros que são para essa faixa etária. Não quer dizer que eu estou "velha demais" para escrever YA, porque não existe limite de idade. Nem que eu estou "boa demais" para YA. Eu só quero continuar escrevendo o que eu quero ler, porque é quando eu sou mais produtiva e quando eu sou melhor na minha arte. Talvez, em breve, eu tenha ideias para YA de novo e tenha vontade de ler YA de novo, mas no momento eu não tenho.

Eu estou chamado de escrita intuitiva, assim como eu chamo meu processo de escolher o que eu quero ler de leitura intuitiva. Eu falei sobre isso na retrospectiva de hiperfixações também!



ESCREVER EM INGLÊS

Ela suspirou.

— Eu não o odeio. Tenho pena dele, nojo dele, mas ele não fez nada para me fazer odiá-lo. Acho que o respeitaria mais se o fizesse.

— Pelo menos você agora tem as terras dele — eu disse, dando de ombros.

— Não até que ele morra ou eu lhe dê um filho — ela me lembrou.

— E o que você planeja fazer acontecer primeiro?

— Ainda não tenho certeza — ela riu.

Eu ri de volta, me sentindo levemente ridícula por fazer piada sobre este assunto. Era uma sensação estranha. Saber do que ela era capaz e perceber que eu não me importava nem um pouco.

Quando eu comecei a deixar as pessoas surpresas por ter escrito um livro inteiro em inglês, eu expliquei que foi mais fácil escrever em inglês, porque eu pensava no livro em inglês. Simplesmente fazia sentido, porque as palavras já vinham na língua. Estou trabalhando em um projeto no momento que nem passou pela minha cabeça escrever em português. Faz mais sentido escrever em inglês.

Mas sendo sincera com vocês e comigo mesma, a última vez que eu li um livro em português foi em novembro de 2021. Tem 14 meses que eu só leio livros em inglês. Então, é óbvio que as minhas palavras saem de mim na minha segunda língua, ao invés da primeira! E agora — os últimos dois meses? — que eu comecei a ler mais livros escritos por autores britânicos, vai ficar ainda pior, porque as palavras vão sair de mim com sotaque. E grafias diferenciadas, porque Deus sabe que eu não vou conseguir me prender a uma só.


CENAS DE SEXO 

— Pare de agir como se tudo fosse sua culpa e como se fosse seu trabalho ser perfeita, sua idiota. Essa é uma das coisas que me deixa maluca sobre você!

— Foi assim que eu fui criada! — ela respondeu, com a mesma raiva nos olhos.

— Bem, eu fui criada para sempre deixar claro que eu sou a pessoa mais poderosa em qualquer lugar. E sabe de uma coisa? Eu tinha doze anos quando dei meu primeiro beijo. Eu tinha dezesseis anos quando me entreguei a alguém. Já tive mais pessoas na minha cama do que você tem irmãos.

Ela estava quase tão vermelha quanto as bandeiras de sua Casa.

— E por que acha que isso a torna mais poderosa do que eu?

Respirei fundo, caminhei até ela e coloquei meu rosto o mais perto que pude do seu, antes de sussurrar:

Porque eu sei como fazer você derreter, implorar e gritar por misericórdia. De uma forma que não tem nada a ver com a guerra. Não vou conquistar suas terras, princesa. Mas eu poderia conquistá-la, Amelia. E tudo que eu precisaria seria uma noite.

Tem anos que eu digo que estou ficando melhor em escrever cenas de sexo, mas escrever Ira me fez perceber que Giulia de 2020 não sabia do que tava falando. Eu voltei para ler algumas cenas que eu escrevi em Aqueles Seis Meses e em partes este é o motivo pelo qual eu removi a história do Wattpad (certeza que ninguém nem percebeu isso). A vergonha alheia de mim mesma, puta que pariu! As cenas eram movidas por puro instinto: Se eu tivesse vontade de escrever sexo, era a hora de escrever sexo. Isso resultou em algumas versões de histórias antigas que eram altamente hormonais, pra não dizer outra coisa. Mas tirando A6M, nenhuma dessas outras histórias viu a luz do dia, graças a Deus.

Em Ira, as cenas se integram de uma forma mais suscinta e mais adulta à história. Isso deixa elas mais sexy também, porque elas fazem sentido, elas são esperadas. Elas chegam a ser discutidas antes de acontecer. A intimidade é demonstrada de outras formas também, como com as cenas que envolvem banheiras e, depois que alguns anos se passam, a revelação de uma nova cicatriz em um lugar secreto, mas mortal (e também tem a admissão de crimes, mas isso é uma questão própria de Ira).

Eu tenho tanto orgulho das cenas de sexo desse livro que eu mesma volto pra ler também, quando dá na telha. Os capítulos 3 e 24 em particular são tudo pra mim. Neste vlog aqui, eu gravei minha reação escrevendo o capítulo 3 (sem querer dar spoiler, mas minha cara não revelou nada).

2020 não foi há tanto tempo assim e a gente tem que levar em consideração o fato de que eu não escrevendo cenas de sexo usando experiências pessoais (virgem não é só meu ascendente), o que mudou? Bem, tem algumas coisas que eu não vou compartilhar com vocês porque seria um pouco demais e ainda tem chance de familiares lerem isso aqui, mas eu tenho duas teorias que podem se tornar públicas: A primeira é que a literatura que eu ando consumindo é muito mais adulta e muito bem escrita. O tanto de romance e de fantasia +18 que passou pelos meus olhos tinha que me ensinar algo. Já a segunda, é que eu simplesmente estou mais madura. Meu cérebro terminando de se desenvolver (vem 25 anos!!), um monte de terapia fazendo efeito e eu simplesmente sinto que amadureci muito emocionalmente no último ano. Então, eu entendo intimidade melhor. Eu sei o que é bom e o que não é.

Eu não vou compartilhar nenhuma cena explicita de Ira ainda, porque elas são muito spoiler para vocês, mas vocês não precisam confiar em mim quando eu digo que elas são boas. Eu estou trabalhando em um conto que é justamente sobre intimidade e um relacionamento evoluindo por 7 anos. Um friends to lovers pros fãs. Se tudo der certo e eu conseguir escrever quando quero, ele sai antes do que vocês podem imaginar e ele é justamente um teste de público pra Ira.


POLÍTICA

Quando minhas damas entraram, com o baú — meu baú de viagem, que eu havia deixado para trás — eu já estava na penteadeira, me olhando no espelho.

— Vossa Graça — Sete delas disseram, ao chegar no quarto.

Não, foi o que eu pensei. Ainda não. Vossa Graça era um título de regência. Vossa Majestade significaria que eu já era rainha.

— Ele morreu? — eu perguntei, sem me virar.

— Ainda não, Vossa Graça — uma delas, nem olhei para ver quem, respondeu — Ele está gravemente ferido.

Levantei-me e deixei que elas me vestissem, pois nem elas, nem os homens que me aguardavam abaixo de nós queriam me ver com os vestidos simples que eu usava no esconderijo. Um gosto ruim tinha tomado minha boca, enquanto meus pensamentos me ensurdeciam.

Gravemente ferido. Apenas o suficiente para o conselho precisar de mim e de minha regência. A coroa ainda estava fora de alcance.

Quando Ira começa, é quase como se existisse um relógio em cima da cabeça da Eirlys. Ela é a Princesa Herdeira. Isso quer dizer que, com o país em guerra, ela pode se tornar rainha a literalmente qualquer momento e só descobrir isso dias depois. Infelizmente, se tornar rainha no meio da guerra significa se tornar comandante de um exército do qual ela entende muito pouco. E como ela foi enviada para um castelo para ser protegida, ela não faz a mínima ideia do que está acontecendo no mundo exterior. A ideia de ir de uma jovem isolada para a líder de um país da noite pro dia a persegue todos os dias.

Enquanto eu construía essa monarquia falsa, eu tinha duas coisas na cabeça. A primeira é que por mais que a ideia de patriarcado ainda estivesse presente, ele não seria central. E os mais misóginos seriam os vilões. O pai da Eirlys leva 18 anos para aceitar que ela é realmente a herdeira dele e que ele não vai ter um filho homem. Quando aceita, ele dispara uma lei que dá a ela direitos que outras mulheres não têm... E eu vou parar por aqui. 

A segunda coisa é que nem a Eirlys e nem a Amelia seriam o tipo de princesa de fantasia que odeia "coisas femininas" ou a posição em que estão. Sabe aquilo da personagem que não quer usar vestidos bonitos, nem joias e que prefere treinar com espadas do que participar de bailes? Por mais válidas que essas representações sejam, elas também são repetitivas. E trazem essa ideia de que o tradicionalmente feminino é mais fraco. Tanto a Eirlys, como a Amelia amam suas posições. A Eirlys ama o poder de ser Princesa Herdeira e o abusa de diversas formas. A Amelia é a futura consorte (porque ela foi criada para casar com um rei) perfeita. Nenhuma das duas gostaria de estar na guerra. Os vestidos que elas usam e as cores deles têm grande significância na história, assim como as joias, que chegam a ser usadas para comunicação não verbal entre as duas, eventualmente. Bailes, flores e posições à mesa de jantar se tornam jogos políticos importantes dentro da história. E eu aei escrever cada parte disso.

A política de Ira ainda não está completamente definida. As duas são de países diferentes e existe um bom pedaço de protocolo real a ser definido. Mas eu nunca gostei tanto de criar algo do jeito que eu gostei de criar o posicionamento das mesas de jantar durante a história — especialmente considerando que foi esse protocolo que levou ao melhor assassinato que acontece na história. E eu vou parar por aqui de novo.

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E é isso! O mais estranho de tudo é que mesmo tendo só 9 dias do começo do ano, eu já sinto que a minha energia de escrita em 2023 vai ser ainda mais intensa. Eu tenho planos e panos grandes. E talvez eu não coloque todos em prática este ano, talvez precise manter a maioria em segredo por mais tempo que isso.

Mas se animem. E aguardem. Tem muita coisa vindo por aí,
G.